terça-feira, 31 de julho de 2012

Doses



O conhecimento e o espírito crítico, através da instrução e da ciência, são extremamente perigosos: só eles permitem alcançar a libertação. Evitam tiranias e ditaduras. Daí o serem considerados perigosos por aqueles que gostam apenas da ordem, daquela ordem que lhes convém.

E daí, também, que as ditaduras (as antigas e as presentes) prefiram e apostem em cérebros que saibam "coisas" e obedeçam, em vez de cérebros que pensam e questionam.

Para nossa desgraça, oscilamos entre os dois extremos: ora pensamos, ora trabalhamos como simples formigas. 


As doses equilibradas e em simultâneo de pensamento crítico e de trabalho esforçado deveriam conduzir-nos à libertação e também à riqueza. Até porque estas duas andam, ainda que não necessariamente, de mãos dadas.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Trevas



"I don't understand evolution, and I have to protect my kids from understanding it!".

Esta frase estava ali num cartoon e não consigo alcançar quem a terá usado pela primeira vez. Fosse quem fosse, o que importa é perceber como cada vez mais gente a usa, ou, mais exactamente, está em condições de a usar. Esta e outras do mesmo cariz.
Muitos de nós ainda somos do tempo em que se acreditava que o mundo caminhava para a luz e o conhecimento. Fomos ensinados a crer no poder libertador do conhecimento, da ciência e do pensamento crítico. 
Foi sol de pouca dura.
Hoje, ao que parece, são cada vez mais os que vêem no conhecimento, na ciência e, especialmente, no pensamento crítico inimigos a exterminar e tratam de os apresentar como fontes de toda a escravidão.
Não se vê luz no fundo do túnel.
Esta, goste-se ou não, é uma das maiores fraquezas da democracia. As trevas podem ganhar e, muitas vezes, demasiadas vezes, ganham.
E não se pense que isso só acontece noutros países, noutras regiões e religiões. Esses, precisamente, a quem se tem andado a oferecer a democracia e a liberdade e que logo, no voto, optam por outra tirania.
Nós, por cá, também compramos demasiadas vezes banha da cobra. Envenenada.


domingo, 29 de julho de 2012

Quem vence?



O Homem, na sua busca incessante de riquezas, escalavrou o monte, arrancou o matagal, acarretou água com a qual separou minuciosamente, da terra, o ouro em pó.
Vencido pela fadiga e pelo esgotar do tesouro perseguido, deixou para trás as pedras que laboriosamente arrancara.
O tempo deixou crescer, por entre elas, devagar, uma floresta de pinheiros.

Veio o fogo e, num instante, só restaram as pedras e os escombros enegrecidos do antigo verde.
Mas a Vida resiste. Desponta e, com tempo, voltará a cobrir o monte. Agora um feto, logo um pinheiro...
Até que o Homem ou o fogo mais uma vez atalhem, fugazmente, a vagarosa caminhada sem fim.

O Homem é um episódio. As pedras desgastam-se. O fogo extingue-se.
Mas a Vida, se tiver tempo, aprenderá, outra e outra vez, a encontrar ouro e caminhos.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Incompatibilidade

      

      O chefe e os outros membros do governo de um país democrático já não conseguem andar por entre o povo sem serem insultados pela multidão?

      As fanfarras dos bombeiros têm de ser usadas para abafar os gritos de protesto?

      Os membros do governo já não podem circular sem um batalhão de polícia de choque a protegê-los da fúria popular?

      Os discursos já só são ouvidos por aqueles que os proferem, porque a populaça os interrompe com apupos?

      Bem, há aqui qualquer coisa que não bate certo.

      Será o País que tem de ir embora?

      Será o Povo que o habita que tem de sair?

      Ou será...?