PEQUENO RESUMO SOBRE OS MOINHOS DE ÁGUA
Os moinhos de água são engenhos accionados pela força motriz da água. Têm presença em Portugal ao longo de vários séculos. São conhecidos moinhos com rodízio a partir do século 2 a.C., invenção da engenharia Grega. Assim sendo, são construções com mais de 2200 anos.
Quase sempre, são construídos com materiais existentes no local; a pedra para as paredes e a madeira para vigas e barrotes de apoio na cobertura.
Estão localizados nas margens dos rios ou ribeiras com caudal suficiente para os mover.
A água é conduzida para o moinho através de levadas.
O declínio
Os moinhos de água encontram-se presentes por todo o território nacional com maior incidência no norte e centro do País, pois estas são as regiões onde os rios e ribeiras reúnem melhores condições (maior declive e mais caudal de água). Em meados do século passado (1950/1960) com a implantação das moagens industriais, accionadas a electricidade ou a motores de combustão, foi alterada por completo a actividade dos moinhos de água. Os moinhos iniciaram uma paragem forçada, os açudes deixaram de fazer represa, as levadas e agueiras entopem, os rodízios a seco empenam e deformam-se.
Actualmente não há continuidade na profissão de moleiro. Poucos sabem picar as mós, meter água, acertar cunhas e saber da finura da farinha
Recordações
Hoje, há poucos moinhos a moer, se o fazem, certamente foram recuperados para a história “os moinhos de água em Portugal”. Os meus avós exerceram a profissão e mestria de moleiros por mais de 60 anos (1910/1970). Os meus avós tiveram 4 filhos, por esse motivo, o moinho foi dividido em 4 semanas (cada filho tinha uma semana de moinho).
Os filhos; o meu pai e tios, pouco moeram. Eu, ainda criança, acompanhei por vários anos a laboração do “nosso moinho”, muitas vezes adormeci ao som/barulho do movimento das mós e do bater suave da água no rodízio. Vi a finura e a pureza da farinha. Comi pão de milho, trigo e centeio com farinha do nosso moinho. Presentemente o moinho está degradado e impossível de restaurar, restam apenas 4 paredes e pouco mais.
Esta é a réplica fiel, recordação do meu moinho:
Vocabulário
1- Açude; construído em pedra, serve para represar a água do rio ou da ribeira
2- Levada; canal com origem no açude, transporta a agua até á represa.
3- Represa; local junto ao moinho onde é recebida a água da levada.
4- Agueira; canal condutor de água, passa por baixo do moinho e desce da represa até ao rodízio.
5- Cubo; cabouco na parte inferior do moinho onde está o rodízio
6- Seteira; peça existente ao fundo da agueira (tubo por onde sai a água)
7- Zorra; peça móvel de apoio ao rodízio (fica por baixo do rodizio)
8- Pejadouro; Tábua/calha que comanda a direcção da água (faz parar o moinho)
9- Disparado, comando do pejadouro, é comandado dentro do moinho, manual ou por falta de grão na moega
10- Rodízio; roda com movimento horizontal (ligado á mó por um veio)
11- Pedra; mó em granito (mó inferior fixa, mó superior móvel)
12- Mó; tem aproximadamente 35 anos de duração
13- Cunhas de agulha; tacos reguladores para controlo da finura da farinha
14- Moega, peça em madeira onde é colocado o grão para moer,fica por cima da mó
15- O grão cai do moega para o quelho. No quelho prende-se o cadelo/roda em cortiça ou madeira, que, em contacto com a parte superior da mó faz trepidação, e assim, o grão cai para o olho da pedra, isto de acordo com o registo. O grão é esmagado/moído e transformado em farinha.
16- Maquia é o pagamento do serviço para moer o grão. De um modo geral, por cada 10 litros de grão era maquiado com 1 quilo de farinha.
17- Medidas tradicionais do moinho são; o alqueire, meio alqueire e a quarta, (são peças em madeira e com capacidade para 12 quilos, 6 quilos e 3 quilos respectivamente.
18- O moleiro tem como outros utensílios, a balança decimal, a peneira, o crivo, a massaneta e pico a vassoura e a pá etc.
19- No interior do moinho pode ver-se; a cama, a lareira, candeias de azeite, talegos, medidas várias, roupa, louças, cântaro etc. etc.
Obs.
Beira Baixa.
Na ribeira de Eiras (afluente do rio Tejo) numa extensão de 15 quilómetros existiam em 1950 catorze moinhos de água. O último a funcionar (moer) foi em 1978. Em 2008 não há qualquer moinho. Tudo foi abandonado e destruído pelo tempo.
Hoje só resta esta réplica do meu moinho “o moinho do Vale de Ferreiros”
Artur Gueifão/2008
Texto e imagem da autoria de Artur Gueifão.
Visitar o site de Artur Gueifão
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Notas minhas:rodízio
do Lat. * roticinu, em forma de roda
s. m., - peça do moinho em cuja extremidade estão as penas (travessas) que a água põe em movimento, promovendo o andamento da mó;
(ver fonte)
Alguns itálicos foram introduzidos por mim, bem como algum arranjo gráfico do texto (parágrafos).
Alguns dos termos utilizados em “Vocabulário” poderão ter ligeiras diferenças ortográficas que não prejudicam a sua compreensão, p.e. talego por taleigo.
Não consegui confirmar o termo massaneta (por maçaneta ?).