"E se a abstenção elegesse cadeiras vazias na Assembleia da República?" — perguntava Rui Rio.
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/rui-rio-quer-acabar-estarmos-suspensos-medidas-no-tc/pag/-1
Não era desacerto. Nas votações da Assembleia, essas cadeiras vazias funcionariam também como abstenções. E dessa maneira a Assembleia representaria efectiva e proporcionalmente o povo que a elegeu e também aquele que preferiu não a eleger.
Algumas decisões ficariam bloqueadas por falta de quórum; mas não é isso o que vem sucedendo ao País?
No actual sistema, os partidos eleitos dividem entre si, na prática, os não-votos do descontentamento e da indiferença, ou seja a abstenção.
O sistema das cadeiras vazias não é nada que não tivesse já sido pensado:
http://www.ionline.pt/iopiniao/democracia-impoe-cadeiras-vazias
(Rascunho)
Existe uma estratégia…
Mais do que estratégia pensada é uma lógica(que vem mesmo a calhar)
Economicista
Que exclui as pessoas
Considerando-as como meros números
Avaliando-as apenas pela sua produtividade presente
Esquecendo o passado e o futuro
Cultura do lucro imediato, imediatista
A tal que diminui apoios sociais
Que desertifica o interior
Que planta eucaliptos para exportar pasta de papel
Para equilibrar a balança de pagamentos
Nessa balança as pessoas não têm peso
Só pesam do lado errado
Estorvam…
Pior: pessoas são custos, quem dera ter só máquinas
Mas as máquinas são caras
Às vezes as pessoas são mais baratas
E então não há outro remédio senão sustentá-las,
dar-lhes trabalho se calhar e pão quanto baste
Diversão para as acalmar,
Letras só as indispensáveis na medida justa
Carpinteiro quer lá saber de literatura
Sociologia desalinha o nível do pedreiro
Algum tempo atrás, escrevi por aqui qualquer coisa acerca de não ser especialmente adepto de canonizações (já não me recordo se disse exactamente "canonizações" ou "beatificações", mas, para o caso, tanto faz). Talvez tenha sido pouco explícito.
Naquele dia, pensava especialmente numa figura de um passado não muito distante (século XX), que de herói pouco tinha e a quem a História (a pessoal e a outra) empurrou para a prática de actos que mais tarde passaram por heróicos mas que foram (dizem as testemunhas) movidos por intenções bastante mesquinhas. E esse lado menos heróico (e até sórdido, se quisermos) é escamoteado a todo o custo, sob pena de se perder o efeito, a aura, a glória, o heroísmo... E é assim que, a pouco e pouco, se vai levando ao altar (ou pelo menos ao pedestal) não uma nova Senhora de Fátima, mas um senhor de Viseu (ou dessas bandas, para não ser, uma vez mais, demasiado explícito, pois o cérebro precisa de trabalhar…)
O mundo não se divide entre bons e maus. Por isso, é preferível que não se escamoteie o lado negro e sórdido. Há quem diga que a Verdade não existe, que existem afinal muitas verdades. Também se diz que a História escrevem-na sempre os vencedores, o que não deixa de ser injusto, mesmo que os vencidos fossem umas bestas.
Por outro lado, seria injusto esquecer, por causa das intenções mesquinhas, as felizes consequências.
Também se diz que a maior parte dos santos é de pau.
Muitas vezes carunchoso. Nada que umas boas camadas de tinta colorida não resolvam...