Algum tempo atrás, escrevi por aqui qualquer coisa acerca de não ser especialmente adepto de canonizações (já não me recordo se disse exactamente "canonizações" ou "beatificações", mas, para o caso, tanto faz). Talvez tenha sido pouco explícito.
Naquele dia, pensava especialmente numa figura de um passado não muito distante (século XX), que de herói pouco tinha e a quem a História (a pessoal e a outra) empurrou para a prática de actos que mais tarde passaram por heróicos mas que foram (dizem as testemunhas) movidos por intenções bastante mesquinhas. E esse lado menos heróico (e até sórdido, se quisermos) é escamoteado a todo o custo, sob pena de se perder o efeito, a aura, a glória, o heroísmo... E é assim que, a pouco e pouco, se vai levando ao altar (ou pelo menos ao pedestal) não uma nova Senhora de Fátima, mas um senhor de Viseu (ou dessas bandas, para não ser, uma vez mais, demasiado explícito, pois o cérebro precisa de trabalhar…)
O mundo não se divide entre bons e maus. Por isso, é preferível que não se escamoteie o lado negro e sórdido. Há quem diga que a Verdade não existe, que existem afinal muitas verdades. Também se diz que a História escrevem-na sempre os vencedores, o que não deixa de ser injusto, mesmo que os vencidos fossem umas bestas.
Por outro lado, seria injusto esquecer, por causa das intenções mesquinhas, as felizes consequências.
Também se diz que a maior parte dos santos é de pau.
Muitas vezes carunchoso. Nada que umas boas camadas de tinta colorida não resolvam...