domingo, 28 de dezembro de 2014

Organogramas



1.       Por mais termos sonantes terminados em "ing" ou "ance" que usem, os tipos que se dedicam predominantemente à actividade financeira não deixam de ser aquilo que sempre foram: usurários.



2.      Fazer disso uma actividade é legal e até necessário, porque os movimentos financeiros são — pelo menos em teoria, porque na prática é outra a história — uma ferramenta capaz de ajudar os capitais acumulados inactivos a tornarem-se produtivos ao serem aplicados noutro lado.



3.      Ultimamente — ajudados pela nossa pacóvia tendência para o deslumbramento (de que a preferência muitas vezes não justificada pelo inglês é apenas um sintoma) — fomos aprendendo a considerar a actividade financeira como sendo a única que merece destaque, a profissão por excelência.



4.      Casualmente — ou talvez não — fomos deixando esquecidos os verdadeiros criadores de riqueza, aqueles que sujam as mãos na indústria ou na agricultura. Hoje é considerado indicador de evolução de um país o ter a sua população maioritariamente empregada nos serviços. Parece uma divisão inocente, mas não é. Ou propositadamente criada ou habilmente aproveitada, essa divisão funciona a favor da imagem daqueles que se dedicam ao "serviço" por excelência, o serviço do dinheiro, rei e senhor incontestado de todos os tempos e de todos os mundos.

 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Megafones



Relativizar expressamente as declarações, eventualmente menos felizes, de uma pessoa bastante idosa pode não ser o mais correcto. Mas há uma forma que não contraria as normas da boa educação: é não dar-lhes demasiado eco, relativizar destacando aquilo que realmente importa.

Mas já sabemos o que importa aos que fazem eco e amplificação...



Paus-de-cabeleira


O poder mudou de mãos. Mudou para a direita.
A troika serviu apenas para dar a imagem de que havia uma arbitragem externa, o que que sempre apazigua um bocado a contestação.



sábado, 30 de agosto de 2014

Timeline


E se insperadamente surge uma foto que é capaz de reabrir páginas antigas do Grande Livro?
Essa foto leva-te para um capítulo bastante antigo, lá para o terço inicial do volume. Então, dás-te conta de que o capítulo ficou bastante incompleto; de que tem, no final, bastantes páginas em branco, páginas que talvez chegassem (chegavam, de certeza) para escrever um outro livro. Mas apercebes-te também de que as páginas que ficaram em branco já não podem ser escritas agora, tal como não podes reescrever as restantes. O Livro só se escreve uma e definitiva vez. No entanto, podes voltar atrás para ler o que está escrito ou reparar nas páginas em branco. Essa viagem no tempo até é capaz de condicionar o conteúdo das páginas que ainda falta escrever e é, aliás, o assunto da página que neste momento está a ser redigida. É certo que sempre podes tentar reescrever novas páginas daqui para a frente, a fim de  substituir as que ficaram em branco. E terás de lembrar-te também de que, por cada página escrita, ficam sempre muitas outras hipotéticas páginas por escrever.
É também essa a razão por que todos os Livros são diferentes, mesmo quando certas páginas parecem estar a contar a mesma história: parecida, mas diferente, porque o narrador é outro e também tem o seu próprio Livro, é bom não esquecer. Nele talvez figures como um capítulo, ou uma simples nota de rodapé. Ou talvez a passagem do tempo tenha feito cair as páginas onde constavas.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pontos de vista




Se o presente é objecto de tão opostas interpretações,  também o foi de certeza o passado. Se a História a escrevem os vencedores, estamos condenados a sentir orgulho daquilo que uns tantos quiseram. Não nos restará espaço para ver vileza onde outros nos impingem heroísmo (ou o inverso)?



sexta-feira, 11 de abril de 2014

O Bolo




Nos estados ao serviço das oligarquias, o dinheiro é retirado aos ricos não amigos e à classe média em geral, pela via dos impostos. Depois, pela via dos subsídios, esse dinheiro é canalizado para os amigos. (Uma parte fica na mão dos políticos, como comissão por serviços prestados e às vezes como prémio por colaboração relevante.)

Os pobres, os necessitados??? Esses não são tidos nem achados. (Os políticos estão autorizados a distribuir-lhes umas migalhas na véspera das eleições, para que tudo continue a funcionar com o mínimo de sobressalto.)

O resto são minúcias mais ou menos técnicas.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Soneto


Soneto recitado até à exaustão no congresso do PSD:

"O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor;

O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor;

O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor;

O país está melho,r o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor
O país está melhor, o país está melhor."


... mas este Povo cá fora, a multidão de desempregados, de pequenos empresários falidos, de excluídos de olhar perdido e sem futuro, de gente com um pé no estribo do comboio ou na escada do avião que parte — essa gente não entende nada de poesia.


domingo, 19 de janeiro de 2014

A vantagem da mentira


A mentira tem sempre (muito) mais audiência do que a reposição da verdade.

Há uma possível explicação bastante simples: a maioria dos que acreditaram na mentira não se dispõe a dar o braço a torcer, a reconhecer que errou, com receio do vexame.

A exploração desta desonestidade é uma arma política eficaz e muito utilizada, como substituto do trabalho concreto, pelos políticos no poder.



sábado, 11 de janeiro de 2014

As recompensas






Parece haver no sistema político uma lógica perversa que leva a que sejam recompensados com excelentes cargos no exterior dois tipos de figurões:

1) Aqueles políticos que, por excelentes serviços prestados a entidades exteriores (tão excelentes quão daninhos foram internamente, porque os interesses são quase sempre opostos), são premiados por essas mesmas entidades, de forma a manter a confiança e credibilidade do sistema e não necessariamente pela sua competência técnica.

2) Aqueles que, internamente, precisam de ser "chutados" para fora e para cima, por já não terem lugar, por estorvarem alguém, por terem feito a demonstração do princípio de Peter, por se incompatibilizarem com outros poderosos, por saberem demasiado, etc.

Em muitos casos, acedem a cargos sem qualquer relevância em termos de poder efectivo, mas recheados de honrarias e chorudo salário, no fundo reformas douradas que — se aceitam — são o que na realidade buscavam.