quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Os donos disto tudo...
A propriedade é sagrada, mas…
Todo o património — público ou privado — em estado de abandono deveria reverter, em tempo útil, a favor de quem dele necessita.
Se o dono quiser evitar isso, só tem de impedir que o bem de que é possuidor caia em abandono, mormente dando-lhe uso. Quem não dá uso às coisas que tem mostra que delas não precisa. Ou é incapaz de cuidar delas — que é uma outra forma de não precisar (cada um só precisa daquilo que está ao seu alcance, salvaguardada a protecção devida à pessoa que dela necessite). As formas em como a propriedade fica devoluta são totalmente inadequadas ao bom ordenamento, à conservação do ambiente e à economia e bom uso dos recursos da Terra.
(E os que protestam veementemente em defesa da propriedade privada são exactamente os mesmos que a todo o momento se insurgem contra sítios e coisas abandonadas… enfim, são contradições…)
— Ah, mas as pessoas trabalharam arduamente para serem donas daquilo que têm…
— Pois, mas, se não usam, é porque se apropriaram de mais do que aquilo que precisavam…
— Ah, mas foi propriedade herdada…
— Sim, claro, mas a herança é uma forma de aquisição. Quem adquiriu, por herança, mais do que aquilo de que pode cuidar…
A inviolabilidade da propriedade coloca o Homem como dono do mundo e de todas as coisas nele existentes. Temos isso tão certo que, quando viajamos para qualquer sítio desconhecido, estamos sempre a perguntar, mentalmente ou em voz alta, quem é o dono disto ou daquilo que vamos vendo, mesmo tratando-se de um espaço vazio ou em estado selvagem. Tudo quanto há na Terra precisa, para tranquilidade do nosso espírito, de ter um dono humano, seja pessoa física ou entidade criada por pessoas (empresa, fundação, associação, o Estado, etc…) Então, parece que essa necessidade que sentimos de que as coisas tenham um dono deriva da compreensão que temos de que elas precisam de quem delas cuide. Ora… se o dono não cuida… que outro possa outro cuidar! Óbvio, não?
Agora, não me perguntem como é que o princípio que está por detrás desta lengalenga se põe em prática. Isso são outros quinhentos… ou se calhar nem tem preço.