domingo, 26 de novembro de 2006

Rio Tejo

   
  
   A minha noção de rio está inevitável e definitivamente condicionada por este Tejo. Quando o vi pela primeira vez, já existia a barragem, com essa imensa quantidade de água acumulada.
   Que estranho se torna, pois, olhar agora para algum fio de água, ou nem isso, e saber que também se chama rio... Até este mesmo, à sua passagem em Aranjuez, por exemplo, não me parece mais do que uma ribeirazeca.
   É com carinho que, ao passar em Molina de Aragón (que tem este nome mas se situa em Castilla la Mancha) e depois de olhar as três torres iguais na antiga muralha, apercebo entre uns choupos um riacho, río Gallo, afluente longínquo quase nas nascentes deste meu Tejo, ali chamado Tajo. Lembro-me, de passagem, que essa água, provavelmente, nunca irá correr debaixo da ponte de Belver, pois certamente irá salvar da morte pela sede algum soalheiro pomar de citrinos em Múrcia, e para isso lá está o canal de trasvase Tajo-Segura. Logo me arranha a sensibilidade ecologista pensar que, afinal, talvez sirva antes para regar algum campo de golf nessa mesma Múrcia onde, como em tantos outros locais de Espanha (e não só), crescem os cogumelos putrefactos da corrupção autárquica.
   Mas deixemos essas águas ainda mais impuras que as que correm por este rio... O Tejo não é o mais poluído dos rios, como sabemos. Felizmente, se é que serve de consolo.