segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O nome da barragem





Esta é uma foto da albufeira da Barragem de Belver, obtida no próprio paredão que também serve de ponte, numa tarde sem vento, fazendo da lisura das águas um espelho para a paisagem.

A data oficial da conclusão da barragem é o ano de 1952, tendo ficado com a designação de Barragem de Belver, possivelmente devido ao facto de a maior parte da albufeira criada coincidir com o limite sul desta freguesia, e também por ser esta uma das localidades mais próximas. 

De há uns anos a esta parte, tem-se verificado que a Câmara de Mação, em cujo território (freguesia de Ortiga) se encontra a quase totalidade das instalações da Barragem, passou a utilizar sistematicamente a designação de "Barragem de Ortiga", no que é acompanhada por algumas instituições ligadas ao turismo na zona, nomeadamente a Região de Turismo dos Templários.

A utilização de uma designação nova e, pode-se dizer, não oficial, omitindo sistematicamente aquela que já existia e está consagrada, pode parecer estranha, e é susceptível de diversas interpretações. 

A mim, parece-me que se trata de um assomo de brios bairristas, reivindicando para si um nome (ou renome) que talvez sintam ter-lhes fugido. E estarão tentando consagrar, pelo uso repetido, a designação que mais lhes convém.

E porque os brios bairristas atingem a todos (mesmo aos que, por esta razão ou por aquela conveniência, se coíbem de os manifestar), aqui fica também o meu desabafo.

Ao longo do tempo, sucessivas reorganizações administrativas fizeram com que a hierarquia relativa das diversas povoações sofresse mudanças radicais. Na última dessa reorganizações, a freguesia de Belver deixou de pertencer ao concelho de Mação, do qual fizera parte durante cerca de 60 anos.

Em tempos mais recuados, a própria vila de Belver foi sede de concelho, entre 1518 e 1836, ficando, a partir desta data, integrada no concelho de Mação. Transitou em 1898 para o então restaurado concelho de Gavião. 

O que é que isto tem a ver com aquilo? Responderão os mais puristas que, em rigor, nada.

Mas nem tudo nesta vida é rigoroso e exacto, e muito menos quando as opiniões são divergentes...



Comentários:

Luiz disse a Sat, 04 Sep 2010 14:22:30 GMT:
http://cnpgb.inag.pt/gr_barragens/gbportugal/Belver.htm



terça-feira, 24 de agosto de 2010

Água mole em pedra dura...


Há já alguns anos, numa deslocação relacionada com a apicultura (deixavam-se cortiços aqui e ali, com a finalidade de recolher enxames), encontrei este local.
Hoje revisitei-o, com o objectivo de captar umas fotos, em promessa feita a um amigo.
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Trata-se de um afluente da margem esquerda do Tejo, a Ribeira de Alferreireira, na transição do curso alto para o médio, ainda na zona granítica, muito antes das impressionantes escarpas xisto-quartzíticas que caracterizam o curso inferior.
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O local não fica muito afastado da EN-118, mas é preciso dar uma pequena volta para poder levar o carro até uns escassos 200m. Então há que descer a pé uma pequena ladeira e, no final, saltar os blocos de granito, ou passar entre eles desviando a vegetação, por entre a qual é evidente a presença dos trilhos de javalis.
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A ribeira "desapareceu" por entre o amontoado de blocos de granito que vão caindo para o leito escavado.
Os blocos vão-se fracturando, deixando entre si fendas profundas às quais há que prestar atenção.
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Embora o granito seja uma rocha extremamente dura, não é muito resistente à erosão na presença da água.
Ao longo de milénios, o chocalhar constante dos calhaus de quartzo, extremamente duros, arrastados pelas enchentes, foi desgastando lentamente os blocos, moldando formas suaves.
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Os remoinhos de água arrastando calhaus foram criando cavidades circulares que, com o tempo, se converteram em verdadeiros poços.
O acesso ao local pode ser bastante difícil, sendo necessário escorregar por uma estreita fenda inclinada.
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No interior, debaixo dos blocos rochosos, reinam as sombras e o frescor proporcionado pela presença da água.
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Mas ao olhar para trás, para a entrada, o clarão ofuscante não deixa esquecer que, lá fora. o sol aperta.
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As águas da ribeira, agora sem corrente, estão lá em baixo, na fenda escura.
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Um poço quase perfeito.
Este e o da imagem seguinte estão separados por uma parede de pequena espessura.
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Este é possivelmente mais antigo e encontra-se a um nível superior. Falta-lhe já uma das paredes, entretanto desgastada. O fundo está atulhado com o resto dos calhaus que lhe talharam a forma.
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Depois há que voltar a sair por ali, rastejando pela fenda inclinada.
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Finalmente, um último olhar pela paisagem, antes de prosseguir para o seguinte destino do dia.
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Comentários:

Júlia disse a Wed, 25 Aug 2010 14:47:39 GMT:
Gosto muito da sua descrição desse fantástico local. As fotos são bem elucidativas da capacidade erosiva da água, com a sua carga de detritos, sobre o granito. Valeu o esforço e foi bom que tenha partilhado a sua aventura.
Cumprimentos


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Feijão-frade de Margem

http://www.elima.pt/index.php?op=rec&id=25


Chama-se correntemente feijão-frade, mas também ostenta a designação erudita de Vigna unguiculata.

Também há quem lhe chame feijão-preto, embora o não seja.

Fácil de conservar durante bastante tempo, mas convém ter cuidado com o gorgulho. É alimento modesto, de tradição em mesa de pobre.


Também por aqui se cultiva.
Há poucas dezenas de anos, ainda se praticava uma agricultura extensiva, nas terras dos grandes proprietários, embora esta espécie fosse cultivada de forma relativamente marginal.

Entretanto, as transformações sociais e económicas, a fraca produtividade dos terrenos, ou até alguma falta de apetência, levaram a que, nos dias de hoje, os detentores de grandes extensões de terra a tenham dedicada quase exclusivamente à pecuária e à exploração florestal.

Resta, no entanto, a tradição da chamada agricultura de subsistência, em pequena ou muito pequena escala. Tal como a quase totalidade dos outros produtos, o feijão-frade cultiva-se normalmente para auto-consumo e, se a quantidade o justificar, vende-se o restante na feira anual ou a vizinhos.



A esta escala, a rentabilidade económica é nula ou mesmo negativa, com os custos a superarem o valor comercial da produção. Na agricultura de subsistência, os custos não são contabilizados, e nem é mesmo considerado como custo o trabalho empregue. A maior parte das pessoas que fazem estes cultivos têm outras fontes de rendimento, como as pensões, ou têm emprego e dedicam-se a amanhar, nas horas vagas, os pedaços de terra que não querem ver abandonados.




Apesar da aridez da maior parte do território, este absorve bem as chuvas, ao ser constituído exclusivamente por aluviões, pelo que as várzeas nos vales dispõem de uma relativa abundância de água, que começa a escassear a partir de meados do verão.




Recentemente, foram aqui feitas importantes obras de melhoramento da rede de encaminhamento das águas para rega. As valas e levadas, que antigamente eram de terra e tinham imensas perdas, foram reconstruídas em betão e dotadas de todos os necessários sistemas de válvulas e comportas. Foram igualmente construídos pequenos açudes nas ribeiras, de modo a garantir a maior quantidade de água possível em cada zona.




Sem nenhuma reticência, todos os utilizadores do sistema se sentem satisfeitos com as melhorias proporcionadas.


No entanto, não parece que esta obra, no valor de 2,5 milhões de euros, tenha contribuído para fixar mais pessoas a este tipo de agricultura, nem para aumentar de forma visível as suas produções (limitam-se a produzir aquilo de que necessitam).


Poderia, sem exagero, afirmar-se que se tratou de um aumento da comodidade dos utilizadores, nada mais.




Quanto aos grandes proprietários, não parece que tenham dado maior importância ao assunto (aliás nem vivem por cá).




Entretanto, tornou-se notícia o feijão-frade, ao ser um dos poucos produtos agrícolas com potencial para ser aqui produzido e capaz de ser comercializado.


Assim se recupere uma antiga tradição alimentar (ia a dizer gastronómica... e por que não?!)...


http://cincoquartosdelaranja.blogspot.com/2009/03/salada-de-feijao-frade-com-bacalhau.html


Bom apetite!