terça-feira, 24 de agosto de 2010

Água mole em pedra dura...


Há já alguns anos, numa deslocação relacionada com a apicultura (deixavam-se cortiços aqui e ali, com a finalidade de recolher enxames), encontrei este local.
Hoje revisitei-o, com o objectivo de captar umas fotos, em promessa feita a um amigo.
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Trata-se de um afluente da margem esquerda do Tejo, a Ribeira de Alferreireira, na transição do curso alto para o médio, ainda na zona granítica, muito antes das impressionantes escarpas xisto-quartzíticas que caracterizam o curso inferior.
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O local não fica muito afastado da EN-118, mas é preciso dar uma pequena volta para poder levar o carro até uns escassos 200m. Então há que descer a pé uma pequena ladeira e, no final, saltar os blocos de granito, ou passar entre eles desviando a vegetação, por entre a qual é evidente a presença dos trilhos de javalis.
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A ribeira "desapareceu" por entre o amontoado de blocos de granito que vão caindo para o leito escavado.
Os blocos vão-se fracturando, deixando entre si fendas profundas às quais há que prestar atenção.
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Embora o granito seja uma rocha extremamente dura, não é muito resistente à erosão na presença da água.
Ao longo de milénios, o chocalhar constante dos calhaus de quartzo, extremamente duros, arrastados pelas enchentes, foi desgastando lentamente os blocos, moldando formas suaves.
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Os remoinhos de água arrastando calhaus foram criando cavidades circulares que, com o tempo, se converteram em verdadeiros poços.
O acesso ao local pode ser bastante difícil, sendo necessário escorregar por uma estreita fenda inclinada.
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No interior, debaixo dos blocos rochosos, reinam as sombras e o frescor proporcionado pela presença da água.
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Mas ao olhar para trás, para a entrada, o clarão ofuscante não deixa esquecer que, lá fora. o sol aperta.
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As águas da ribeira, agora sem corrente, estão lá em baixo, na fenda escura.
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Um poço quase perfeito.
Este e o da imagem seguinte estão separados por uma parede de pequena espessura.
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Este é possivelmente mais antigo e encontra-se a um nível superior. Falta-lhe já uma das paredes, entretanto desgastada. O fundo está atulhado com o resto dos calhaus que lhe talharam a forma.
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Depois há que voltar a sair por ali, rastejando pela fenda inclinada.
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Finalmente, um último olhar pela paisagem, antes de prosseguir para o seguinte destino do dia.
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Comentários:

Júlia disse a Wed, 25 Aug 2010 14:47:39 GMT:
Gosto muito da sua descrição desse fantástico local. As fotos são bem elucidativas da capacidade erosiva da água, com a sua carga de detritos, sobre o granito. Valeu o esforço e foi bom que tenha partilhado a sua aventura.
Cumprimentos