Os meus sogros têm uma idade bastante avançada. Ela não se pode deslocar sozinha. Ele pode, mas um pequeno acidente vascular diminuiu-lhe algumas faculdades. Contudo, insiste em continuar a cuidar da horta e dos animais que ainda possui.
Perante uma observação minha contra o que me pareceu ser empenho excessivo dele em certas tarefas, o comentário da mulher foi este:
"Quem manda é a vida!"
Curto e directo.
É um axioma. Ela não fez a frase na altura. Mas aprendeu-a ao longo da vida, talvez a tivesse ouvido dos seus pais os dos seus avós. Com aquilo, ela sublinhava que o que ele estava a fazer não era excessivo, nem era senão o cumprimento das obrigações a que se sentia sujeito. Pode-se discordar da importância dessas obrigações, mas não retirar-lhe o direito de as avaliar segundo a sua própria perspectiva.
Apesar da seca, fomos plantar (insistem em dizer semear, que se há-de fazer... há até a "batata de semente", que não é semente nenhuma...) alguns regos de batatas. A mim cabia-me naturalmente abrir os regos, enquanto ele dispunha os pedaços de batata cortados. De vez em quando, a "semente" acabava-se e ele ia buscar mais. Pois quando chegava, se não me encontrasse no local, começava ele de imediato a cavar.
Quem manda é a vida...