Resineiro na operação de renovar
Resineiro
Também há que dizer que não era um trabalho excessivamente complexo, embora tivesse algumas regras importantes a seguir, especialmente no que dizia respeito às dimensões das feridas feitas nas árvores, às quantidades de ácido sulfúrico aplicadas, ao perímetro mínimo dos troncos e aos períodos definidos para as diversas fases da exploração.
Os pinheiros nos quais se havia explorado a resina resultavam menos valiosos, pois a madeira do troço inferior do tronco tinha fraca qualidade e menor aproveitamento nas serrações. Essa situação era ainda agravada no caso de a exploração ter sido feita em condições inadequadas.
O ácido sulfúrico era pulverizado sobre as feridas acabadas de fazer (chamava-se a essa operação “renovar”) e tinha o efeito de abrir os poros da madeira, permitindo a saída da resina, que nessa época era recolhida em recipientes cónicos (semelhantes aos vasos das flores) feitos de barro cozido (chamados “canecos”), e que eram apoiados, quando não estavam ao nível do solo, sobre cavilhas espetadas no tronco do pinheiro. Primitivamente, utilizavam-se cavilhas de madeira, que eram previamente preparadas em casa, a partir de pequenas ripas, de seguida afiadas com uma lâmina (muitas vezes o próprio “ferro de renovar”). Antes de serem colocadas na árvore, era necessário abrir previamente nesta uma pequena ranhura vertical para o efeito. Posteriormente, passaram a utilizar-se cavilhas de metal, as quais, por virem já prontas a aplicar, permitiam uma grande economia de tempo.
Imediatamente abaixo da sangria, (a coluna formada pela sucessão das feridas feitas no tronco), e ainda antes do início desta, era colocada uma peça de metal em forma de meia-lua, chamada bica, que permitia o escoamento da resina e ajudava ao mesmo tempo à fixação do recipiente de recolha. Para a fixação desta peça na árvore, era feita uma incisão com uma ferramenta especial de gume curvo. A mesma ferramenta, provida de um encaixe apropriado, permitia depois colocar a bica na incisão, com o auxílio de um maço de madeira relativamente pesado.
A resina era recolhida periodicamente, numa operação a que se dava o nome de colha (redução de recolha ou forma do verbo colher, com semelhante significado). Retirava-se dos canecos com o auxílio de uma espátula metálica com cabo de madeira (a colher) e ia sendo guardada nuns recipientes de folha-de-flandres, chamados caldeiros. Estes eram transportados normalmente às costas, sendo posteriormente vazados para barris ou bidões de 200 litros, os quais eram posteriormente recolhidos pelo detentor da exploração. Estes bidões, idênticos aos recipientes comerciais dos óleos lubrificantes, tinham na sua parte lateral uma abertura retangular, com uns 15x20cm, com uma tampa provida de um ferrolho. A abertura com estas dimensões permitia a introdução da resina, em estado semi-sólido ou muito viscoso, no interior do bidão, que se encontrava deitado e devidamente calçado para que não saísse do seu lugar. Com a ajuda de varas de madeira, procedia-se a mexer (misturar ou compactar) a resina sólida com a menos viscosa, de modo a aproveitar a capacidade total do recipiente. Esta operação era especialmente importante quando o tempo estava muito frio, pois a viscosidade da resina aumenta com a diminuição da temperatura, chegando a solidificar.
Como nem todas as árvores produziam a mesma quantidade de resina, deixavam-se espalhados pelo pinhal recipientes (canecos) em número que se cria suficiente para ir substituindo os que se iam encontrando quase cheios, já que o número de visitas para renova era superior ao daquelas que se faziam para a colha do produto.
No final de cada época, normalmente em Novembro, procedia-se à raspa (raspagem) da resina que, endurecendo ao escorrer, ficava agarrada ao tronco da árvore, na zona descascada. Na mesma altura, eram arrancadas todas as bicas e cavilhas, que se guardavam para reutilização na época seguinte. Esta começava com a escolha, marcação e contagem das árvores que iam ser exploradas. A operação seguinte era a remoção de parte superior da casca da árvore, a carrasca, deixando uma superfície plana e uma espessura adequada, a que se seguia a colocação das bicas, cavilhas e canecos.
Tomavam-se precauções adequadas para que a resina não acumulasse detritos, especialmente durante a operação de renova: para que a casca removida não caísse dentro dos canecos, colocava-se sobre estes uma espécie de raquete. A caruma (agulhas do pinheiro) ou pequenos ramos que sempre iam aparecendo eram retirados rapidamente em cada passagem.
A resina do pinheiro é uma substância extremamente pegajosa, em especial com temperaturas mais altas, quando fica mais fluida. Por isso, era necessário usar sempre roupas velhas, já que depressa ficavam inutilizadas. Para a remover da pele, era necessário usar petróleo de iluminação (querosene), menos agressivo, mais económico e mais fácil de obter do que os diluentes industriais.