Quando duas legalidades antagónicas se cruzam, aquele que for apanhado na intersecção — acidentalmente, ou posto lá de forma voluntária ou involuntária — deve preparar-se para ser castigado por uma delas (e mesmo por ambas) ou ser castigado por uma e abandonado pela outra.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
legalidades
Quando duas legalidades antagónicas se cruzam, aquele que for apanhado na intersecção — acidentalmente, ou posto lá de forma voluntária ou involuntária — deve preparar-se para ser castigado por uma delas (e mesmo por ambas) ou ser castigado por uma e abandonado pela outra.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Falsos amigos
... quem os não tem?
Mas aqui trata-se de outros falsos amigos, palavras que parecem ser aquilo que não são, que julgamos erradamente conhecer.
A tradicional e generalizada antipatia dos portugueses por tudo o que vem de Espanha (nem bom vento nem bom casamento) não impede uma boa parte de acreditar que o idioma castelhano é uma espécie de Português com uma entoação cómica. Vai daí, parece que a leitura não apresenta especial dificuldade (falar já é mais complicado, pois não basta arremedar o acento, como bem sabem — ou deviam saber — Mourinho, Ronaldo e os políticos em geral).
Mas será de facto assim? Será a língua espanhola tão acessível?
De facto é. Mas convém ter atenção aos tais falsos amigos.
Mas aqui trata-se de outros falsos amigos, palavras que parecem ser aquilo que não são, que julgamos erradamente conhecer.
A tradicional e generalizada antipatia dos portugueses por tudo o que vem de Espanha (nem bom vento nem bom casamento) não impede uma boa parte de acreditar que o idioma castelhano é uma espécie de Português com uma entoação cómica. Vai daí, parece que a leitura não apresenta especial dificuldade (falar já é mais complicado, pois não basta arremedar o acento, como bem sabem — ou deviam saber — Mourinho, Ronaldo e os políticos em geral).
Mas será de facto assim? Será a língua espanhola tão acessível?
De facto é. Mas convém ter atenção aos tais falsos amigos.
Palavra em espanhol Parece que é… …, mas na realidade significa absorto absorto distraído aceitar aceitar untar/lubrificar com óleo aceite aceite óleo acordarse acordar lembrar-se/recordar-se alargar alargar alongar alias aliás alcunha/nome suposto anécdota anedota história breve/episódio real ano ano ânus apellido apelido sobrenome azar azar casualidade balón balão bola barata barata promoção bicha bicha serpente bola bola globo borrar borrar apagar brincar brincar saltar cabrón cabra sujeito malandro cachorro cachorro filhote calzas calças verbo (tú calzas)/meias/calções carroza carroça carruagem cierto certo VERDADEIRO cola cola fila contaminar contaminar poluir cuello coelho pescoço crianza criança criação desenvolver desenvolver abrir/desembrulhar doce doce doze donde de onde onde embarazar embaraçar engravidar engrasado engraçado lubrificado/engraxado escoba escova vassoura escritorio escritório secretário exquisito esquisito delicioso/elegante estufa estufa fogão feria férias feira firma firma assinatura funda funda fronha jugo jugo suco largo largo comprido leyenda legenda lenda luego logo depois maestro maestro professor manteca manteiga banha mermelada marmelada doce mientras mentiras enquanto mirar mirar olhar oso osso urso palco palco camarote pelirrojo perigoso ruivo pelo pelo cabelo patio pátio platéia propina propina gorjeta rato rato momento rojo roxo vermelho salada salada salgada tapa bofetada tira-gosto taza taça xícara travessón travessão trave
E deverá haver mais alguns, pelo que convém não "presumir de saberlo todo".
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
"Não batas a portas com que bateste"
"O morto era tão boa pessoa…"
Se há situação capaz de despertar a hipocrisia, é aquela em que é preciso fazer referência a alguém que faleceu, especialmente na presença daqueles que lhe eram próximos, e tanto mais quanto maior tiver sido essa proximidade. Só uma besta irá dizer ao órfão "o teu pai era um vigarista", ainda que ele o fosse tanto ou mais que alguns que a gente conhece. Mesmo em relação aos amigos do defunto, existe a tendência para não explorar demasiado os defeitos que eram do conhecimento de todos, por receio de ferir susceptibilidades. Haverá logo um que interrompa: "Deixa-o lá descansar em paz!".
Só que algumas pessoas exageram. De um momento para o outro, o defunto passou a ter qualidades que em vivo ninguém lhe havia encontrado. Defeitos, nem um.
Bom, mas qualidades são qualidades, defeitos são defeitos. Outra coisa são os actos praticados. O que se diga de que o defunto era isto ou era aquilo pode sempre ser relativizado em função da tendência para realçar o bom e atenuar o mau em relação aos mortos. As boas acções serão agora enfatizadas. Mas os danos causados não são facilmente esquecidos por quem os sofreu. Quem tem razões de queixa até pode perdoar, mas não esquece. Se forem danos materiais concretos, a situação pode mesmo complicar-se e patrimónios e heranças chegarem a ser responsabilizados por ordem de quem de direito. Mas essa já é outra questão.
É certo que, para simplificar as relações, as más condutas devem ser enterradas juntamente com quem as teve. Uma das razões para trazer a lume os maus actos de alguém é a possibilidade de que isso sirva para que se emende. Ora, se há um tipo de gente que não tem emenda — mas não tem mesmo — são os mortos.
No entanto, se o relembrar dos defeitos ou má conduta do morto servir de lição para os vivos, porque não falar deles? E então se tiverem contribuído, ou se suponha que contribuíram, para a morte dele, fica encontrada razão de sobra para os relembrar.
Soube recentemente da morte, ocorrida já há alguns meses, de uma pessoa que não conhecia pessoalmente — apesar de ser um colega de profissão — mas apenas através do contacto mais ou menos virtual de um fórum. Ele era o administrador do fórum e eu um membro não muito antigo. O homem tinha o hábito de se referir de forma que eu considerei despropositada às opiniões que não eram coincidentes com as suas. Toda a gente sabia que assim era, mas raros se atreviam a expressá-lo, para evitar represálias ou até mesmo chatices menores. Diz o povo que por pouco se começa... Afinal, o homem era o dono daquele espaço. Quem não está bem muda-se. E foi isso que aconteceu. Quando a coisa passou dos limites, eu bati com a porta e ele, depois disso, ainda a fechou à chave. Não sem antes ter ouvido o que havia para dizer. As verdades às vezes doem.
Para além disso, como todo o pequeno rei, ele tinha a habitual corte de intriguistas e de graxas. Sempre que ele levantava a voz contra alguém, lá vinha, solícito, o coro dos indignados ajudar. Também havia o grupo daqueles que se dedicavam a espalhar veneno. Há sempre. Uma insinuação aqui, uma resposta torcida acolá...
Felizmente, também existia quem tentasse sempre solucionar divergências (esses serão sempre bem lembrados).
Neste caso, o morto — a quem verdadeiramente nunca conheci — possivelmente até era mesmo boa pessoa. Não gostava era de ser contrariado nem sabia muito bem lidar com isso. As polémicas pareciam incomodá-lo bastante.
O que eu agora não vou fazer , como em algum momento posso ter chegado a pensar, é dirigir-me àquela comunidade de colegas ou ex-colegas para lhes dar os pêsames, que são sinceros. Os sensatos iam compreender, mas o grupo dos venenosos iria ver nisso uma provocação.
"Não batas a portas com que bateste" — disse alguém com razão...
Que descanse em paz.
(O falecido, porque os tais hão-de continuar como de costume. Mas não perdem pela demora: também vão, também iremos, quando chegar a nossa vez).
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
mercados
Isto passou-se?
Li por aí que, quando certo autarca pareceu disputar a liderança do principal
partido da oposição, foi de imediato visitado, em casa, por uma comitiva de
representantes do poder financeiro, vulgarmente chamados banqueiros.
Não há notícia ou boato que não desperte interrogações e eu não sei exactamente se isto é notícia confirmada. Mas, em qualquer caso, as interrogações (a tal inocência perdida…) já ficaram.
Que quereriam os senhores da finança? O povo diz que devia ser alguma "conveniência" — e emprega o termo em sentido irónico. Mas o bom senso diz-nos que devia mesmo ser alguma conveniência para quem tomou a iniciativa (não creio que tivessem sido chamados pelo político…).
Com alguma dose de maldade, até se pode pensar que — convictos da forte possibilidade de ele arrebatar a liderança do partido e, nessa condição e actuais circunstâncias, ser mais do que provável candidato a primeiro-ministro — quereriam talvez …
Mas o melhor é não começarmos a imaginar possibilidades.
Não há notícia ou boato que não desperte interrogações e eu não sei exactamente se isto é notícia confirmada. Mas, em qualquer caso, as interrogações (a tal inocência perdida…) já ficaram.
Que quereriam os senhores da finança? O povo diz que devia ser alguma "conveniência" — e emprega o termo em sentido irónico. Mas o bom senso diz-nos que devia mesmo ser alguma conveniência para quem tomou a iniciativa (não creio que tivessem sido chamados pelo político…).
Com alguma dose de maldade, até se pode pensar que — convictos da forte possibilidade de ele arrebatar a liderança do partido e, nessa condição e actuais circunstâncias, ser mais do que provável candidato a primeiro-ministro — quereriam talvez …
Mas o melhor é não começarmos a imaginar possibilidades.
São tantas as vozes
a dizer que os (ou alguns) políticos se vendem ao poder financeiro, que o mais
certo é termos de acreditar nelas. Mas não o faríamos se não fossem tantas as
evidências disso (ou serão apenas coincidências?).
E aqui abro um
parêntesis para precisar que não é bem a mesma coisa um político vender-se ao
empresário que pretende facilidades para criar riqueza (ainda que guardando o
melhor dela para si) e vender-se a meros especuladores que mais não pretendem
do que chamar a si a riqueza que foi
criada por outros. A crescente concentração da propriedade nas mãos de grandes
grupos financeiros faz com que a criação da verdadeira riqueza esteja uns
quantos escalões abaixo do topo da pirâmide, no qual se encontram os
especuladores.
Não é por acaso que
o ex-possível-candidato foi visitado por banqueiros. Afinal eles são a face
visível da especulação mundial (embora não precisamente estes, mas outros
peixes maiores, muitíssimo maiores, que também os controlam e só não os devoram
se não puderem).
Se o meu raciocínio
estiver certo e os tais senhores tiverem uns cérebros que funcionam como a
maioria dos cérebros humanos, eles limitaram-se a sondar o mercado, talvez
dispostos a abrir os cordões à bolsa a troco de certas prestações de serviços.
Aí estão as leis
para impedir que a ganância humana leve a certos extremos, mas aquilo de que as
leis foram feitas para ser transgredidas não é em vão: é que, se elas não
fossem necessárias, por que diabo alguém se haveria de dar ao trabalho de as
criar?
sábado, 2 de fevereiro de 2013
A Wiki pode ser bacana, mas não sei se é porreira...
A Wikipédia e a Língua Portuguesa
Procurar algo na Wikipédia em Português é cair quase inevitavelmente em páginas escritas por brasileiros, usando a variante brasileira do Português, numa óptica brasileira, com referências à realidade do Brasil.
O leitor esclarecido consegue distinguir e filtrar o tipo de informação, mas o incauto, o principiante, o menos culto, o estrangeiro, a criança, poderão não conseguir.
Na minha opinião, a plataforma deveria permitir a existência de versões das páginas não só por idioma mas também por país. Isso iria acarretar um grande aumento do número de páginas, já que algumas línguas são as oficiais em muitos países, como é o caso do Inglês, do Espanhol ou do Português. Mas iria permitir, por outro lado, adaptar as definições e informação à realidade de cada país ou região.
Um exemplo: Se eu, estando em Portugal, procurar "poder judicial", nem sequer vou encontrar a definição. Em alternativa, encontrarei "poder judiciário" (sendo o mesmo, é uma terminologia menos usada entre nós), que se refere ao sistema judicial (ou judiciário) do Brasil. Logo, embora possa ser de utilidade, não é aquilo que eu procurava.
E poderia continuar. Este exemplo não é uma excepção, mas sim a regra. É por isso que eu afirmo, sem hesitar, que, independentemente da sua relativa utilidade, a Wikipédia em Português é para brasileiros.
Há um dito de que "o papel consente tudo quanto nele se escreve". Isto é verdade para o papel e (tanto ou mais ainda…) para os meios electrónicos ou virtuais. De igual modo, é válido tanto para esta "enciclopédia" de edição livre pelos leitores/utilizadores como para as patrocinadas por instituições ou autores "reconhecidos". Não se pode confiar absolutamente em tudo quanto se lê e o valor da informação é sempre relativo. No entanto, ao estar a Wikipédia aberta a que qualquer um possa editar as suas entradas e escrever nelas o que lhe der na gana (ressalvando, naturalmente, a possibilidade de revisão por outros utilizadores, alguns creditados com responsabilidades especiais) a sua credibilidade será sempre menor do que a das enciclopédias "institucionais".
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