terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um mundo sem regras

A pretexto de evitar a crise do capitalismo, segundo eles demasiado espartilhado por regras e contaminado por uma filosofia keynesiana, despesista — assente na disponibilidade de riqueza pelas populações, incentivando o consumo gerador de crescimento e muito virada para o estado social —, os neocons dos anos 80 acabaram por desencadear um processo que resultou na própria crise. Esta, a que actualmente vivemos, a do chamado mundo ocidental. Se era isso que procuravam, parabéns. Foram bem sucedidos.
Reagan, Thatcher, Pinochet, assim como o seu guru Milton Friedman, lá no inferno onde se encontram, bem podem festejar.
Bem assim como a sua descendência: nunca se bebeu tanto champanhe caro como agora.
Só falharam numa coisa. Nunca, como agora, as contas estiveram tão desequilibradas.
Ou não falharam. O desequilíbrio favorece-os.


domingo, 11 de agosto de 2013

Eles estão errados ou são mesmo maus?

Assim numa reacção primária, para benefício geral, aqueles que agora nos encaminham para esta nova ordem mundial precisam de ser esmagados e aniquilados — ou, numa reacção menos primária,  neutralizados — com a mesma frieza e indiferença com que agora nos esmagam — ou neutralizam — a nós. Eles são como um cancro que precisa de ser extirpado; e tomara que não se tenha tornado maligno e fatal. Os cancros são o expoente do mal misturado com estupidez: uma vez liquidado o hospedeiro, o cancro desaparece também.

As cada vez mais frequentes comparações com o nazismo não são tão descabidas como parece. Os nazis não começaram um processo de extermínio das raças consideradas inferiores movidos apenas por puro ódio. Eles estavam convencidos de que, dessa "purificação", sairia uma raça melhor, mais forte e saudável. Os inferiores não mereciam viver porque a sua existência seria um peso para os "bons", resultando, em última instância, no prejuízo de todos. Estariam, assim, justificados por uma espécie de racionalidade que os ilibaria de culpas.

O mundo asséptico da alta finança, onde as fraquezas humanas não podem ter lugar, um mundo dominado por uma suposta imparcialidade (e racionalidade), é o sistema em que agora só são premiados aqueles que conseguem obter sucesso através da acumulação de riqueza, não importando — são danos colaterais — quantos outros seres são esmagados para tornar isso possível, e é ainda mais ignóbil, por não obedecer a qualquer princípio orientador para além do objectivo do próprio benefício. É a indiferença, a frieza e o egoísmo extremos que os torna ignóbeis. Eles dizem acreditar — não porque de facto acreditem, mas porque convém que os outros o façam — que da desregulação total, da redução do Estado a serviços mínimos, resulta necessariamente o bem-estar generalizado, proporcionado pelo aumento exponencial da riqueza disponível, só possível de criar num mundo sem entraves burocráticos. É claro que não acreditam nisso. Na verdade, o que pretendem é substituir o Estado por um clube onde só eles tenham assento e criar uma economia que, em vez de estar baseada nas dispendiosas e cada vez mais exigentes classes médias, esteja assente na mão-de-obra escrava, agora supostamente livre e com uma remuneração reduzida ao indispensável, comprada através dos sonhos de progresso para todos da segunda metade do século XX, iludida e acalmada através uma suposta liberdade de expressão.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tiques


Salazar acumulou, com as funções de Presidente do Conselho, por diversas vezes, as de outras pastas: Finanças, Negócios Estrangeiros e Defesa. É de reparar que não o fez numas épocas quaisquer, mas em momentos importantes em que terá considerado, na sua natureza desconfiada, que tais funções não deviam ser delegadas em mais ninguém.


Finanças — de 1928 a 1940, no início do regime. Salazar vinha das Finanças. Ainda antes de subir a Presidente do Ministério (designação depois alterada para Presidente do Conselho), ele foi titular dessa pasta, que manteve. O equilíbrio das contas públicas era, para ele, uma prioridade absoluta.
Negócios Estrangeiros — de 1939 a 1944, ainda antes do desfecho da Guerra Civil espanhola e no período da 2ª Guerra Mundial, na qual o País não participou abertamente e foi oficialmente neutral mas teve intensa colaboração (pelo menos económica) com o III Reich de Hitler, fornecendo-lhe o volfrâmio de que ele tanto necessitava para a sua indústria de guerra.
Defesa — entre 1961 e 1962, no início da Guerra Colonial.

Quem não veja semelhanças entre o início do Estado Novo e a época em que vivemos é porque não leu nada da História do século XX português ou por ter estado distraído, ou então porque não quer. 

Por exemplo, Salazar renunciou ao cargo de ministro das Finanças treze dias depois de o ter assumido pela primeira vez, retomando-o após exigir e obter dos militares da ditadura o controle total das receitas e despesas de todos os outros ministérios. 

Tivemos recentemente, ou não, algum super-ministro das Finanças que fazia do equilíbrio das contas públicas a sua prioridade absoluta?

As Finanças sempre foram e são importantes. Que o diga a actual ministra, que não se sabe muito bem como subiu ao cargo, por quem foi e está apadrinhada (dentro ou fora do País). E o Tesouro, do qual ela é a anterior titular? Perdida a confiança no secretário, reservou ela para si mesma as funções, ao que diz provisoriamente, mas a ver vamos…


Vendo que se mantêm os mesmos tiques nas mesma áreas, quem não ficaria pelo menos inquieto com as semelhanças?

PS, de post scriptum:
(Interromper a meio um curto período de quinze dias de férias para presidir a uma reunião do Conselho de Ministros, dá a impressão de quê, se não for explicado? Não é uma acumulação, mas é uma não-delegação, uma declaração quase explícita de falta de confiança no substituto formal. O princípio é o mesmo. Estaremos rodeados de gente providencial?)


O Barco a Pique

« ... os acontecimentos e o rumo que as coisas estão a tomar já ultrapassam mesmo os próprios "governantes locais".
O Estado já só existe formalmente. O que há é um conjunto de pessoas que funcionam, uns de forma mais voluntária do que outros, como agentes dos interesses financeiros de uma elite endinheirada que conseguiu, ao longo de décadas, ir suprimindo sucessivamente todas as conquistas dos povos nos últimos séculos em matéria de justiça social. Subsiste, para criar ilusão, um arremedo de liberdade de expressão, mas até essa é falsa, infiltrados e comprados ou destruídos que estão os media na sua generalidade.
Até o capitalismo, tal como o conhecíamos, foi substituído. A posse de capital real, fábricas e meios de produção de bens, foi substituída pela capacidade de fabricar dinheiro livremente através do mecanismo dos empréstimos e da criação artificial e induzida de dívida. A rebelião das massas é controlada habilmente através de um sofisticado equilíbrio entre a vontade de lutar e o medo de perder o pouco que ainda resta. A matriz e medida de todo este sistema é o dinheiro, apenas o dinheiro e a sua posse. 


E acrescento que, em relação à liberdade de expressão, ela está a ser habilmente aproveitada como válvula de escape das tensões. E a prova de que funciona está aqui. Dizem-se estas coisas, que provavelmente são reais e têm até o acordo, não admitido, claro, daqueles a quem se critica, e depois ficamos mais aliviados na crença de que o que dissemos serviu para alguma coisa. E os tais pensam e dizem só entre eles "isso, isso... desabafa que te faz bem...". »

Exagero? Não me parece.



Regimes especiais, excepções, privilégios, sementes de divisão…




Definição de divisão:

A divisão é uma planta espontânea. Não precisa de ser semeada. Surge em qualquer terreno onde já exista previamente qualquer espécie de coberto vegetal. No entanto, medra muito mais rapidamente quando é fertilizada ou quando cria raízes em terrenos pouco homogéneos, constituídos por camadas de densidades muito diferentes. É geralmente nos intervalos entre essas camadas que ela tende a germinar e a proliferar. Quando semeada, especialmente em terrenos onde já surgiu espontaneamente, tende a  tornar-se invasiva e rapidamente sufoca toda a outra vegetação. Nessa fase, a sua erradicação torna-se bastante problemática, pois esse processo destrói totalmente a coesão estrutural dos terrenos, já iniciada, deixando-os vulneráveis a todas as formas de erosão e posterior desertificação. 


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Deslizes e descuidos



Estamos a ler um texto informativo que, a princípio, até parece ir bem e é sobre um tema que consideramos importante.
De repente, começam a aparecer inconsistências.
Para rematar, surgem termos e expressões mal traduzidas ou simplesmente por traduzir (o Google Translate falhou...).
Vai tudo por água-abaixo… às vezes não vai, se for possível encontrar o original.
Muitas vezes, estes textos são divulgados por pessoas ou organizações empenhadas em denunciar as patifarias que os "espertos" deste mundo vão cometendo. Mas estes pequenos deslizes constantemente repetidos minam a credibilidade de quem os comete e desvalorizam o seu trabalho por vezes meritório e em nada beneficiam os nobres objectivos.