As cada vez mais frequentes comparações com o nazismo não são tão descabidas como parece. Os nazis não começaram um processo de extermínio das raças consideradas inferiores movidos apenas por puro ódio. Eles estavam convencidos de que, dessa "purificação", sairia uma raça melhor, mais forte e saudável. Os inferiores não mereciam viver porque a sua existência seria um peso para os "bons", resultando, em última instância, no prejuízo de todos. Estariam, assim, justificados por uma espécie de racionalidade que os ilibaria de culpas.
O mundo asséptico da alta finança, onde as fraquezas humanas não podem ter lugar, um mundo dominado por uma suposta imparcialidade (e racionalidade), é o sistema em que agora só são premiados aqueles que conseguem obter sucesso através da acumulação de riqueza, não importando — são danos colaterais — quantos outros seres são esmagados para tornar isso possível, e é ainda mais ignóbil, por não obedecer a qualquer princípio orientador para além do objectivo do próprio benefício. É a indiferença, a frieza e o egoísmo extremos que os torna ignóbeis. Eles dizem acreditar — não porque de facto acreditem, mas porque convém que os outros o façam — que da desregulação total, da redução do Estado a serviços mínimos, resulta necessariamente o bem-estar generalizado, proporcionado pelo aumento exponencial da riqueza disponível, só possível de criar num mundo sem entraves burocráticos. É claro que não acreditam nisso. Na verdade, o que pretendem é substituir o Estado por um clube onde só eles tenham assento e criar uma economia que, em vez de estar baseada nas dispendiosas e cada vez mais exigentes classes médias, esteja assente na mão-de-obra escrava, agora supostamente livre e com uma remuneração reduzida ao indispensável, comprada através dos sonhos de progresso para todos da segunda metade do século XX, iludida e acalmada através uma suposta liberdade de expressão.