sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tiques


Salazar acumulou, com as funções de Presidente do Conselho, por diversas vezes, as de outras pastas: Finanças, Negócios Estrangeiros e Defesa. É de reparar que não o fez numas épocas quaisquer, mas em momentos importantes em que terá considerado, na sua natureza desconfiada, que tais funções não deviam ser delegadas em mais ninguém.


Finanças — de 1928 a 1940, no início do regime. Salazar vinha das Finanças. Ainda antes de subir a Presidente do Ministério (designação depois alterada para Presidente do Conselho), ele foi titular dessa pasta, que manteve. O equilíbrio das contas públicas era, para ele, uma prioridade absoluta.
Negócios Estrangeiros — de 1939 a 1944, ainda antes do desfecho da Guerra Civil espanhola e no período da 2ª Guerra Mundial, na qual o País não participou abertamente e foi oficialmente neutral mas teve intensa colaboração (pelo menos económica) com o III Reich de Hitler, fornecendo-lhe o volfrâmio de que ele tanto necessitava para a sua indústria de guerra.
Defesa — entre 1961 e 1962, no início da Guerra Colonial.

Quem não veja semelhanças entre o início do Estado Novo e a época em que vivemos é porque não leu nada da História do século XX português ou por ter estado distraído, ou então porque não quer. 

Por exemplo, Salazar renunciou ao cargo de ministro das Finanças treze dias depois de o ter assumido pela primeira vez, retomando-o após exigir e obter dos militares da ditadura o controle total das receitas e despesas de todos os outros ministérios. 

Tivemos recentemente, ou não, algum super-ministro das Finanças que fazia do equilíbrio das contas públicas a sua prioridade absoluta?

As Finanças sempre foram e são importantes. Que o diga a actual ministra, que não se sabe muito bem como subiu ao cargo, por quem foi e está apadrinhada (dentro ou fora do País). E o Tesouro, do qual ela é a anterior titular? Perdida a confiança no secretário, reservou ela para si mesma as funções, ao que diz provisoriamente, mas a ver vamos…


Vendo que se mantêm os mesmos tiques nas mesma áreas, quem não ficaria pelo menos inquieto com as semelhanças?

PS, de post scriptum:
(Interromper a meio um curto período de quinze dias de férias para presidir a uma reunião do Conselho de Ministros, dá a impressão de quê, se não for explicado? Não é uma acumulação, mas é uma não-delegação, uma declaração quase explícita de falta de confiança no substituto formal. O princípio é o mesmo. Estaremos rodeados de gente providencial?)