sábado, 4 de agosto de 2012

Caridade






««« ...a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão...
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Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo ...
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Em todo o caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida.
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o monopólio do trabalho e dos papéis de crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários.
… »»»

(da encíclica «RERUM NOVARUM» do Papa Leão XIII, 1891) 



Retiradas do diagnóstico inicial, estas partes que continuam de actualidade. O resto (a terapia e as recomendações) é outra conversa, genericamente bafienta.
Quando digo que é "genericamente bafienta", refiro-me a ter sido usada, como discurso e com mais ou menos adaptações, por quem bem sabemos, durante meio século.

"Solução definitiva: a caridade"
(Título da conclusão da encíclica.)


Ficaram seguidores, mais de um século depois.
Há quem hoje, aposte nessa segurança social arbitrária e aleatória, feita de generosidades esparsas, entregando à boa-vontade de cada um aquilo que é uma obrigação e tem de ser um compromisso da sociedade no seu conjunto, sendo a parcela individual de esforço a adequada às possibilidades de cada um e a receita gerada segundo regras bem definidas.
A generosidade individual engrandece quem por ela se rege, mas não pode ser, por si só, a solução global.