sábado, 13 de outubro de 2012

diamond traders





A propósito da descoberta de um planeta todo constituído por diamante (ia a dizer "feito", mas não é bem o mesmo). Ou a propósito do que adiante se verá…

Para o efeito, o planeta descoberto podia ser de ouro ou de outro material "valioso".

Numa análise mais grosseira, podemos assumir que a riqueza tem duas faces: a do valor real e a do valor especulativo.
Claro que o valor especulativo também é real. Qualquer que seja o tipo de utilidade que se encontre numa coisa, é essa utilidade que lhe confere o seu valor. O ouro é valioso como material para determinadas aplicações científicas, tecnológicas, etc., mas também serve, por exemplo, como referência para cotações de moedas e como reserva ou garantia das mesmas.
Agora imaginemos que o ouro era muito mais abundante do que na realidade é. O seu valor como material não diminuiria. A abundância (e disponibilidade) de um material de qualidade até iria tornar a humanidade mais rica. O que diminuía era a sua capacidade especulativa. Não valia a pena entesourar uma coisa tão abundante e fácil de adquirir. Para esse fim, teria de se encontrar algo mais raro. Se esse tal planeta de diamante estivesse à mão de semear, rapidamente os "diamond traders" de Antuérpia teriam de passar a transaccionar outra coisa.
Certas sociedades primitivas usavam como moeda objectos ou materiais menos "nobres", tais como ossos, conchas, pedrinhas coloridas, etc. Bastava-lhes o valor simbólico. Mas estas "moedas" tinham apenas valor local, apenas entre aqueles que as conhecessem ou reconhecessem. Para além disso, em pequenos grupos, a autenticidade de tais "moedas" ou testemunhos de riqueza era garantida pela confiança e conhecimento de todos os seus membros entre si.
Na nossa sociedade actual, o valor simbólico continua a existir, mas tem de se adicionar algo mais que garanta a autenticidade do testemunho e permita, de certo modo, evitar as falsificações. Num grupo tão alargado, a confiança não é garantia suficiente. É preciso algo mais substancial.
No entanto (pensemos bem) a confiança continua a existir, isto é: continua a ser uma ferramenta sabiamente utilizada por certos indivíduos ou grupos.
Vimos que, objectivamente, a confiança não serve como garantia em grupos alargados, já que, ao não conhecerem-se todos os seus membros entre si, é maior a possibilidade (é praticamente uma certeza) de alguns elementos tenderem a burlar os outros, simulando, com a apresentação de moeda (testemunho) falsa, uma riqueza que não possuem. No entanto, desde que esses elementos menos honestos tenham a possibilidade de persuadir os restantes a acreditar naquilo que apresentam, a sua moeda (testemunho de riqueza) passa a ser aceite como verdadeira, quando na realidade é falsa.

A confiança numa moeda supõe que a sua posse permite adquirir uma certa quantidade de outros bens, simbólicos ou não simbólicos.


(devo continuar, falando do que todos sabemos?)