segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Morte anunciada há quase 40 anos



"Eu ainda sou do tempo da cerveja clok."

Dizer isto a quem também se lembra da antiga e extinta marca de cerveja ribatejana é declarar uma idade que se conta por décadas (várias).

Durante 16 anos trabalhei numa empresa que deteve até certa altura contratos (inicialmente em exclusividade) para a distribuição de algumas marcas de bebidas e refrigerantes numa zona que abrangia aquilo que hoje se designa como Norte Alentejano e franjas adjacentes da Beira e do Ribatejo.

Ainda hoje, a maior fatia do mercado das cervejas se divide em duas marcas: a Sagres e a Superbock, liderando a primeira no sul e a segunda no norte do país.
Contudo, na década de 70, a cerveja clok conseguiu uma fatia importante do mercado, em especial no vale do Tejo e Alentejo, chegando mesmo a ser líder em algumas zonas.

A cerveja clok era produzida em Santarém pela empresa Copeja-Companhia Portuguesa de Cervejas, SARL. Na segunda metade da década de 1970-1980, a empresa foi integrada no grupo depois denominado Unicer, constituído pela CUFP, a COPEJA e a IMPERIAL.

A liderança do grupo passou a ser exercida pela empresa de maior dimensão, a CUFP (Superbock, Cristal), sediada em Leça do Balio. Por estratégia comercial, ou por qualquer outra razão que não consigo descortinar (mas desconfio), o grupo decidiu eliminar a marca clok, substituindo a sua produção em Santarém pela de uma das marcas até aí detidas pela CUFP, inicialmente a Cristal.

A machadada final veio com a decisão, tomada no início deste ano, de encerrar a fábrica de Santarém já em 2013. Entretanto,  vêm aí 60 milhões de euros do BEI, de um total de 173 milhões a investir num processo dito “para melhorar a eficiência”, do qual faz parte (como não podia deixar de ser – digo eu) a morte (há muito anunciada?) da fábrica que um dia produziu afamada (*) cerveja clok.

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(*) Ainda hoje se pode ler, em cartazes de propaganda das festas populares por esse país fora a publicidade à afamada bebida de tal marca, ao afamado conjunto musical, ao afamado frango assado único nas redondezas... 



sábado, 27 de outubro de 2012

Contenção






Antes de começar uma polémica ou discussão, ou até mesmo de fazer um simples comentário,  a pergunta é: vale a pena? 
Convém fazer um balanço prévio das vantagens e das desvantagens. 
Como resultado disso, comunica-se possivelmente menos, mas é-se mais escutado.
Quem tem instinto experimentalista e acha que é absolutamente necessário que tudo seja dito e discutido, devia esforçar-se por não exagerar e tentar perceber que há um meio-termo entre a auto-censura e a irresponsabilidade.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Planetas


Os astrónomos também nos deixaram outros ensinamentos


A toda a hora, novos artigos sobre planetas descobertos a orbitar estrelas que estão a vários anos-luz, a milhares de anos-luz...
Inacessíveis, portanto. E (não menos importante), como a maior parte da "informação" circula pelo espaço sob a forma de radiações electromagnéticas, sujeitas à mesma velocidade da luz, aquilo que sabemos deles é o que ocorreu há vários anos, milhares de anos... A menos que alguém descubra uma forma prática de viajar no tempo, são pouco mais que quimeras.
Entretanto, mesmo com a ajuda da descoberta desses planetas quiméricos, podíamos ir reflectindo e centrando as nossas preocupações no que se passa aqui, neste mesmo planeta onde agora estamos e vai estar, seja sob que forma for (a menos que haja uma colisão catastrófica), durante milhões de anos, o pó de que somos feitos.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cangalhas, Albardas & Angarelas


1. Albarda
Por Wendel Sousa (RJ) em 08-11-2008
1. sela grosseira com palha, que é colocada no lombo de animais de carga
2. (popular) Roupa grosseira ou malfeita
3. (figurado) opressão, vexame
(Em Espanha, o termo designa o conjunto e não apenas a sela, como em Portugal.)


Angarelas, Espécie de grade de madeira do carro de bois constituída por 2 estadulhos ligados por 2 travessas, usada para suportar  carradas de palha, de feno, de erva ou de lenha. Quando não é possível segurar o material a transportar com as angarelas, como é o caso da terra ou do esterco, recorre-se às caniças. As angarelas e as caniças seguram-se verticalmente introduzindo as respectivas extremidades nos furos dos berbiões ou cárceles.


1. Cangalha
Por Jefferson Vargas (ES) em 21-07-2008
Armação de madeira ou de ferro em que se sustenta e equilibra a carga das bestas, metade para um lado delas, metade para o outro.
O burro carregava lenha nas cangalhas todos os dias, da mata até a casa.


Os meios de transporte nem sempre foram o que são, mas podem muito bem voltar a sê-lo. Nunca se sabe. Pelo caminho que as coisas levam, nunca se sabe...
Costumávamos chamar "angarelas" ou "cangalhas", de forma mais ou menos indiferente, à tal armação (podia ser de madeira, mas também podia ser feita em trabalho de serralharia) que se colocava por cima da albarda do burro ou muar. Nessa armação colocavam-se com facilidade as cargas a transportar: sacos de batatas ou de cereal, lenha, molhos de feno, etc.
Não encontrei fotos de "cangalhas" do tipo que conheci. (Ainda tentei desenhar, mas não saíu nada de jeito.) Eram contituídas por duas estruturas contruídas em forma de "U" (nas fotos acima estão em forma de "V") e feitas com perfis (barra) de ferro forjado para lhes dar essa forma. As duas estruturas eram ligadas entre si por  correntes, assentando estas na albarda, que se protegia do desgaste colocando de permeio um saco de serapilheira ou outro material equivalente. No caso das de madeira, eram ligadas entre si por cordas ou correias.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

struggle for life

Monolitten, Oslo.

No capitalismo selvagem do século XIX, os dissidentes, os que resistiam à exploração, eram encarcerados. Na versão actualizada de hoje, isso não é fácil, pois as cadeias já estão cheias com outras classes de "inadaptados"e, por outro lado, os dissidentes são em maior número ou conseguem falar mais alto. Por isso é preciso encontrar uma nova solução: colocar cada eventual resistente como prisioneiro dos seus próprios medos, fornecendo-lhe um relativo bem-estar que ele se receie perder. Habituado ao bem-estar, ele vai querer cada vez mais e, a partir de certa altura, pode tornar-se um adepto do sistema.


Claro que o sistema não é suficientemente grande para nele caberem todos.

Mas há métodos de selecção.

Imaginemos um enorme amontoado de corpos dentro de um poço. Uns estão vivos, outros mortos. Os que estão vivos lutam uns com os outros tentando sempre subir para onde possam respirar melhor e deixar de ser esmagados. Os mais fortes conseguem ficar em cima. Os mais fracos, cada vez mais exaustos, vão ficando mais fundo, acabam esmagados, sufocados, e morrem. A parte de baixo, a dos mortos, é cada vez maior, mas o tempo e o peso encarregam-se de a comprimir e compactar, tal como sucede com os estratos rochosos mais profundos da crosta terrestre. Ao mesmo tempo, os que se encontram nas camadas superiores têm maior liberdade de movimentos e, embora tenham que lutar contra os que, nas camadas abaixo, tentam por sua vez emergir, tendem a ficar sempre aí até que a energia se lhes esgote e sejam, por sua vez, puxados para baixo.

Que lugar ocupamos naquela coluna?


domingo, 14 de outubro de 2012

Notícia verdadeira, foto falsa


Até que ponto é correcto utilizar, para ilustrar uma notícia ou artigo, uma foto sobre o mesmo tema genérico mas que não corresponde ao acontecimento ou facto concreto referido no texto?

Se é verdade que uma imagem vale por mil palavras, então pode induzir o leitor a interpretar o que nela vê como sendo uma extensão ou complemento do texto que se prepara para ler ou que já está lendo. A menos que seja capaz de distinguir de forma clara elementos que evidenciem o contrário, tenderá a considerar que a imagem apresentada corresponde de facto àquilo que o texto descreve.


Se o tema central é genérico, qualquer imagem alusiva, em geral, pode servir para o ilustrar. No entanto, quando o tema central da notícia ou artigo é um facto ou acontecimento específico (apesar de se enquadrar no tema genérico), associar-lhe imagens que não lhe correspondam de facto poderá induzir leitores em erro, devido à eventual presença de elementos estranhos (ou até discordantes) ao assunto principal.

Nas redes sociais ( e de uma forma geral na Internet) e até mesmo na imprensa escrita, a maioria dos leitores tende, num primeiro contacto, a ler os títulos e observar as imagens, especialmente as do topo. Dependendo do tempo disponível ou da apetência pelo assunto, é que decide, ou não, passar à leitura do texto e observação mais cuidada das ilustrações.

Sendo certo que uma notícia ou artigo precisam de chamar a atenção, o chamariz (título e ilustração) deve corresponder sempre ao tema central. Fazer de outro modo é cometer fraude, segundo o conceito de publicidade enganosa.


As redes sociais

Nas redes sociais, especialmente na maior de todas neste momento, que é o Facebook, as notícias ou artigos são divulgados pelos próprios leitores, através da partilha de conteúdos. Sendo certo que os participantes nas redes sociais não estão obrigados ao mesmo nível de rigor que se exige aos profissionais da informação, não deixam de ter o dever moral e de cidadania de ser cuidadosos com aquilo que divulgam ou partilham.

Mas há um tipo especial de participantes, que são precisamente os profissionais da informação, não apenas as pessoas, mas também as entidades ou empresas que os enquadram (televisões, jornais, agências noticiosas, etc.). Esta classe, enquanto participante nas redes sociais, não está dispensada do rigor que lhe é exigido profissionalmente. No entanto, este princípio nem sempre é levado à risca: é frequente encontrarem-se publicações "descuidadas" por parte destas pessoas ou entidades.


(Este texto, apesar de escrito de forma impessoal, reflecte a opinião pessoal do seu autor, que nem sempre a pode dar como resposta ou comentário quando encontra os descuidos acima referidos, embora muitas vezes lhe apeteça fazê-lo. E não há opiniões simples; quando muito, simplistas.)



sábado, 13 de outubro de 2012

diamond traders





A propósito da descoberta de um planeta todo constituído por diamante (ia a dizer "feito", mas não é bem o mesmo). Ou a propósito do que adiante se verá…

Para o efeito, o planeta descoberto podia ser de ouro ou de outro material "valioso".

Numa análise mais grosseira, podemos assumir que a riqueza tem duas faces: a do valor real e a do valor especulativo.
Claro que o valor especulativo também é real. Qualquer que seja o tipo de utilidade que se encontre numa coisa, é essa utilidade que lhe confere o seu valor. O ouro é valioso como material para determinadas aplicações científicas, tecnológicas, etc., mas também serve, por exemplo, como referência para cotações de moedas e como reserva ou garantia das mesmas.
Agora imaginemos que o ouro era muito mais abundante do que na realidade é. O seu valor como material não diminuiria. A abundância (e disponibilidade) de um material de qualidade até iria tornar a humanidade mais rica. O que diminuía era a sua capacidade especulativa. Não valia a pena entesourar uma coisa tão abundante e fácil de adquirir. Para esse fim, teria de se encontrar algo mais raro. Se esse tal planeta de diamante estivesse à mão de semear, rapidamente os "diamond traders" de Antuérpia teriam de passar a transaccionar outra coisa.
Certas sociedades primitivas usavam como moeda objectos ou materiais menos "nobres", tais como ossos, conchas, pedrinhas coloridas, etc. Bastava-lhes o valor simbólico. Mas estas "moedas" tinham apenas valor local, apenas entre aqueles que as conhecessem ou reconhecessem. Para além disso, em pequenos grupos, a autenticidade de tais "moedas" ou testemunhos de riqueza era garantida pela confiança e conhecimento de todos os seus membros entre si.
Na nossa sociedade actual, o valor simbólico continua a existir, mas tem de se adicionar algo mais que garanta a autenticidade do testemunho e permita, de certo modo, evitar as falsificações. Num grupo tão alargado, a confiança não é garantia suficiente. É preciso algo mais substancial.
No entanto (pensemos bem) a confiança continua a existir, isto é: continua a ser uma ferramenta sabiamente utilizada por certos indivíduos ou grupos.
Vimos que, objectivamente, a confiança não serve como garantia em grupos alargados, já que, ao não conhecerem-se todos os seus membros entre si, é maior a possibilidade (é praticamente uma certeza) de alguns elementos tenderem a burlar os outros, simulando, com a apresentação de moeda (testemunho) falsa, uma riqueza que não possuem. No entanto, desde que esses elementos menos honestos tenham a possibilidade de persuadir os restantes a acreditar naquilo que apresentam, a sua moeda (testemunho de riqueza) passa a ser aceite como verdadeira, quando na realidade é falsa.

A confiança numa moeda supõe que a sua posse permite adquirir uma certa quantidade de outros bens, simbólicos ou não simbólicos.


(devo continuar, falando do que todos sabemos?)


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Com amigos assim...

http://www.causamerita.com/madedeus_large.jpg
Nau portuguesa Madre de Deus
(Stolen by a "friend" of ours)


A ver se eu percebo esta amizade
Então, Portugal e Inglaterra eram amigos de longa data.

Entretanto, Portugal caiu sob domínio de Espanha.
Pouco depois, Inglaterra e Espanha entraram em guerra.
Inglaterra, em vez de proteger o seu aliado logo de início (D. António, pretendente ao trono, pediu ajuda), considerou-o inexistente a partir de então.
Propriedade portuguesa era como se espanhola fosse.
(E então uma nau carregada de riquezas orientais…)
Portanto, toca a levá-la para casa!
E nunca mais os nossos amigos ingleses e holandeses devolveram o que nos roubaram enquanto fomos espanhóis...
O domínio filipino foi a pior coisa que nos aconteceu. Dominados por uma nação que foi derrotada pelos nossos aliados tradicionais: dupla humilhação perante estes.

Com amigos e vizinhos assim...

Parece que o nosso declínio começou bastante cedo, ajudado também por uma deficiente escolha das amizades.
Ou será que... existem amizades?!

* * *

E se o poeta soubesse como era (tristemente, neste caso) premonitório o seu verso?...
"Novos mundos ao mundo irão mostrando."
(Camões, Os Lusíadas, II, 45)


E, dos 869 anos, quantos foram de protectorado?
Ser roubado pelos amigos também é fado. 

O nosso. Ser roubados por quem nos protege...



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Viagens

http://www.ownapainting.com/images/
PaulGauguin-NafeaffaaIpolpoakaWhenWillYouMarry.jpg

«Una buena exposición cuenta una historia y formula una hipótesis.»


«Me acuerdo de aquella Tercera de Mahler…»


(aqui não é Pons quem dirige, mas Bernstein)


Comentário à margem:
Não há classe que o capitalismo não explore.
Agora estou a lembrar-me de algumas classes de artistas.
Em vida ignorados, remunerados a pataco (hoje já há muitas excepções).
Depois de mortos, pretexto para especulação e troca de fortunas.
Telas, terrenos ou barras de ouro, no fim dá tudo no mesmo.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Algas nossas de cada ano...

Nesta imagem recente das Portas de Ródão, é bem visível a presença de algas e outros microorganismos resultantes da eutrofização das águas do Tejo, que ocorre cada  ano por esta altura.

A água que nos chega de Espanha é cada vez menos e, nesta época do ano e em especial nos anos mais secos, isso contribui fortemente para o agravamento do fenómeno, do qual os nosso amigos espanhóis estão bem cientes.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Rochas da Conheira do Caratão

Recolha casual de imagens mostrando a existência de diferentes tipos de rochas nos amontoados de "conhos" (calhaus) da Conheira do Caratão.







segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Conversão


Para a conversão, uma música não deve ser suficiente.Mas admitamos que isso era possível. Nesse caso, se esta não foi capaz de te converter, terás de te resignar com o teu destino.