quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

As cadeiras vazias




"E se a abstenção elegesse cadeiras vazias na Assembleia da República?" — perguntava Rui Rio.

http://www.ionline.pt/artigos/portugal/rui-rio-quer-acabar-estarmos-suspensos-medidas-no-tc/pag/-1


Não era desacerto. Nas votações da Assembleia, essas cadeiras vazias funcionariam também como abstenções. E dessa maneira a Assembleia representaria efectiva e proporcionalmente o povo que a elegeu e também aquele que preferiu não a eleger.

Algumas decisões ficariam bloqueadas por falta de quórum; mas não é isso o que vem sucedendo ao País?

No actual sistema, os partidos eleitos dividem entre si, na prática, os não-votos do descontentamento e da indiferença, ou seja a abstenção.

O sistema das cadeiras vazias não é nada que não tivesse já sido pensado:

http://www.ionline.pt/iopiniao/democracia-impoe-cadeiras-vazias


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Rascunho



(Rascunho)


Existe uma estratégia…
Mais do que estratégia pensada é uma lógica
(que vem mesmo a calhar)
Economicista
Que exclui as pessoas
Considerando-as como meros números
Avaliando-as apenas pela sua produtividade presente
Esquecendo o passado e o futuro
Cultura do lucro imediato, imediatista
A tal que diminui apoios sociais
Que desertifica o interior
Que planta eucaliptos para exportar pasta de papel
Para equilibrar a balança de pagamentos
Nessa balança as pessoas não têm peso
Só pesam do lado errado
Estorvam…
Pior: pessoas são custos, quem dera ter só máquinas
Mas as máquinas são caras
Às vezes as pessoas são mais baratas
E então não há outro remédio senão sustentá-las,
dar-lhes trabalho se calhar e pão quanto baste
Diversão para as acalmar,
Letras só as indispensáveis na medida justa
Carpinteiro quer lá saber de literatura
Sociologia desalinha o nível do pedreiro


(continua?)



domingo, 1 de dezembro de 2013

Santos de pau carunchoso


Algum tempo atrás, escrevi por aqui qualquer coisa acerca de não ser especialmente adepto de canonizações (já não me recordo se disse exactamente "canonizações" ou "beatificações", mas, para o caso, tanto faz). Talvez tenha sido pouco explícito. 

Naquele dia, pensava especialmente numa figura de um passado não muito distante (século XX), que de herói pouco  tinha e a quem a História (a pessoal e a outra) empurrou para a prática de actos que mais tarde passaram por heróicos mas que foram (dizem as testemunhas) movidos por intenções bastante mesquinhas. E esse lado menos heróico (e até sórdido, se quisermos) é escamoteado a todo o custo, sob pena de se perder o efeito, a aura, a glória, o heroísmo... E é assim que, a pouco e pouco, se vai levando ao altar (ou pelo menos ao pedestal) não uma nova Senhora de Fátima, mas um senhor de Viseu (ou dessas bandas, para não ser, uma vez mais, demasiado explícito, pois o cérebro precisa de trabalhar…)

O mundo não se divide entre bons e maus. Por isso, é preferível que não se escamoteie o lado negro e sórdido. Há quem diga que a Verdade não existe, que existem afinal muitas verdades. Também se diz que a História escrevem-na sempre os vencedores, o que não deixa de ser injusto, mesmo que os vencidos fossem umas bestas.

Por outro lado, seria injusto esquecer, por causa das intenções mesquinhas, as felizes consequências.

Também se diz que a maior parte dos santos é de pau.
Muitas vezes carunchoso. Nada que umas boas camadas de tinta colorida não resolvam...



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Dar



«Siempre me acuerdo del Evangelio: “Al que tiene le será añadido; al que no tiene le será negado”. Cuando eres tan pobre que miras los escaparates de las librerías como un hambriento los de los restaurantes nadie te regalará ningún libro. Cuando no lo necesitas te abruman con ellos.»

http://xn--antoniomuozmolina-nxb.es/2013/11/tantos-libros/



"Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado."
(Lucas 19,26)

No Evangelho, o sentido da parábola é outro bem diferente (tem pouco a ver, nota-se que o escritor anda por outras leituras), mas siga-se, para este efeito, a citação à letra...



Por que razão as pessoas ricas ou menos necessitadas tendem a receber mais prendas, ofertas, etc. do que outras mais pobres e necessitadas?

Não há uma razão única para o explicar (os factos que observamos têm geralmente causas múltiplas e quase sempre complexas). Oferecer algo a alguém é um acto que pode ter motivações bastante díspares. Quando se trata de caridade, o acto vai, naturalmente, dirigido a pessoas mais pobres. Os ricos não precisam de caridade.

As entregas feitas a pobres a título de caridade ou solidariedade não se enquadram nas categorias de prendas, brindes, ofertas. São ajudas.

Ninguém dá brindes aos pobres. Os brindes podem ter diversas motivações, sendo algumas delas de natureza comercial (merchandising, uma acção de marketing) e têm como objectivo chamar a atenção das pessoas para um bem comercial ou mercadoria, com o objectivo final de que o comprem.

Não tendo os pobres poder de compra, não tem sentido fazer acções de promoção dirigidas (direccionadas?) a eles. Quando os pobres recebem os objectos utilizados nas acções de marketing, esses objectos ou brindes já não estão a cumprir a função para a qual foram criados, a não ser quando ele, pobre, funciona como pretexto para a exibição do acto (sendo o pobre então mero instrumento de acções dirigidas a outros).

A oferta feita aos pobres pode não ser desinteressada. O gesto é para ser visto pela sociedade, de forma que o ofertante possa colher benefícios em termos de imagem junto do público (banquetes e feiras de beneficência, por exemplo, embora sempre haja pessoas que preferem ficar anónimas).

Há, contudo, casos em que os pobres podem obter ofertas com intenção que se pode considerar, em grande parte, de natureza comercial e não como dádiva altruísta e desinteressada. A oferta pode destinar-se a "comprar" a sua cooperação, em actos ou atitudes de que o ofertante espera obter benefícios (a moeda dada ao arrumador de carros não anda muito longe disso, embora aqui já exista uma outra componente, a de extorsão, pois a moeda serve também para evitar a ameaça de aparecerem uns riscos no carro, um pneu furado ou coisa ainda pior; mas isso já é outro tema).

Os livros enviados ao escritor são merchandising, brindes promocionais. Quem os envia espera que ele os leia e venha depois a falar ou escrever sobre eles, conferindo-lhes prestígio e, por acréscimo, valor comercial.

Quem dá, geralmente espera algo em troca. Por isso, dá-se mais a quem tem algo para dar. É injusto, mas é assim. Ou, pondo a frase ao contrário: É assim, mas é injusto.


(Claro que este não era mesmo o assunto da Parábola da Dez Moedas).








terça-feira, 26 de novembro de 2013

E se... ?





E se o fascismo viesse desta vez disfarçado de neo-liberalismo?
Ou se este se dispusesse a abrir-lhe a porta?

Um fascismo de novo tipo, que dispensa a liturgia das grandes paradas e manifestações oficiais, custosas e ostensivas mas facilmente substituíveis pelo hábil domínio — exercido na sombra e à distância — da contra-informação  e da desinformação, tornado hoje possível pelas novas tecnologias e contando, até, com a colaboração nem sempre involuntária dos vários Big Brothers em serviço. 

Um fascismo que dispense de certa forma o culto da personalidade, substituindo-o pelo culto a uma entidade suprema — e nisso supre até as necessidades espirituais de muitos ateus —: o deus dinheiro, o supremo valor, a medida de todas as coisas, inalcançável, como qualquer divindade que se preze. Um deus que a todos possui, mas só por uns poucos é possuído.



segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Problema acrescido



«««  "Os Santos têm uma grande tradição em Portugal", apesar que o Dia já estava "um bocadinho desvirtuado", porque as pessoas aproveitavam o feriado para lembrar os defuntos.  »»» — disse D. Manuel Clemente.

Mas eu acho que ele se esqueceu de um pormenor importante (sim, há pormenores que são importantes): é que parte das pessoas aproveita o dia de Santos para ir deitar no lixo as máscaras de Halloween (os mais conscienciosos aproveitam para as guardar no armário, evitando a despesa no ano seguinte…).
Também acho que uma pessoa actualizada e moderna, em princípio, não deveria esquecer-se disto.
Disse ainda que o desemprego é um problema acrescido para as famílias. E disse uma grande verdade. "Problema acrescido", assim como que "en passant", parecendo que quase se esquecia de o referir. 
Cá por mim, podia perfeitamente ter dito "drama", em vez de "problema acrescido". Os dramas não precisam de ser acrescidos e teria poupado no vocabulário.
Não entendi muito bem foi aquilo da "solidariedade geral e particular". A solidariedade particular não me custa a entender. Todas as pessoas são livres de ser solidárias e têm até o dever moral de o ser. Mas a "solidariedade geral" é que me deixa às voltas. Para ser geral, tem de ser de todos, tem de ser comum, o que supõe que é organizada. Tudo quanto é geral e comum, se não for organizado, resulta numa grande confusão, pelo menos. A mim, parece-me que a melhor instituição para coordenar aquilo que é geral e comum é o Estado. Mas eu acho que  Sua Eminência (tratamento que já antecipo, pois suponho que a ela vai ter direito brevemente) não era nisso que estava exactamente a pensar. Palpita-me que não.
Também fiquei com a impressão (mas também só li o artigo, não ouvi as declarações) de que ele foi muito cauteloso nas recomendações de carácter social e, ao mesmo tempo, bastante incisivo nas declarações de carácter político (ler no artigo). Atendendo ao teor das mesmas, até fiquei a matutar em quem poderia ele estar ao mesmo tempo a apoiar e também a recear.
Mas houve uma coisa que me deixou tranquilo: a tradição não se perde, está bem entregue.


http://www.noticiasaominuto.com/pais/125655/portugueses-tem-de-ser-mais-modestos-nos-gastos#.UneKSpRdfq0




domingo, 3 de novembro de 2013

Equidade




Ninguém está obrigado — quando recebe algo — a exigir que o mesmo benefício seja atribuído a outros por razões de equidade. 
Todos têm o direito  — quando algo lhes é retirado — de questionar a legitimidade do acto.
Mas, ao queixar-se de falta de equidade, não pode esquecer o que ficou dito acima.

(Isto pode parecer confuso, mas tem tudo a ver com discussões bem actuais).




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

The invisible hand is tied by invisible strings


Foto: http://duted.files.wordpress.com/2011/10/invis98k.gif


Escolas privadas, possuídas, financiadas e patrocinadas por entidades privadas, tenderão a ensinar as ideias liberais e ultraliberais que mais convêm aos seus donos e patronos, em detrimento de quaisquer correntes que se oponham a essas ideias ou que delas se afastem o suficiente para as pôr em causa. Objectando a esta acusação de falta de pluralismo, pode argumentar-se que todos são livres de se constituir em associações ou entidades promotoras de um ensino alternativo àquele, eventualmente mais pluralista. Mas tal argumento é falso, ao ignorar uma premissa fundamental, que é a capacidade económica necessária para criar e manter sistemas e instituições dedicadas ao ensino, uma actividade que dificilmente é rentável por si própria, a não ser que os alunos tenham capacidade económica para financiar os respectivos custos. A desigualdade de capacidades económicas resulta sempre em desigualdade de oportunidades.

A médio e longo termo, a filosofia económica liberal ou ultraliberal acabará por prevalecer sobre qualquer outra.

Durante algum tempo, pareceu que o papel dos estados podia ser também o de corrigir essas desigualdades quando injustas (alguma desigualdade é necessária para manter a dinâmica social), usando para isso os recursos que a Sociedade lhes fornece. Mas agora querem convencer-nos de que os sistemas se auto-regulam e que, se deixados entregues a si próprios, daí resultarão a felicidade e a riqueza universais. A economia não precisa, dizem eles, de ter as pessoas como objectivo. As pessoas só beneficiarão, dizem eles, de não tentarem interferir no curso dos acontecimentos, já que toda a interferência, dizem sempre eles, retira eficiência ao sistema.

Até aqui, não disse senão banalidades. Mas agora vejamos: o sistema já está praticamente implantado. Ainda será possível voltar atrás?




terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quem foge é valente?






"As decisões judiciais não devem provocar alarme social."

Isto parece-me do mais elementar bom-senso, mas posso estar errado. Podem até existir normas que vedem ao sistema judicial a preocupação com o impacto social das suas decisões, como forma de garantir a sua independência e de o tornar imune a pressões ou influências vindas do exterior.

Seria a aplicação da Lei da forma mais pura e asséptica possível.

Mas a Lei tanto pode ter origem humana como "extraterrestre".

Sabendo que a maioria dos homens não acreditava nos outros homens, os que criaram as leis no passado invocaram então para elas uma autoria divina (extraterrestre, portanto) como  forma de as credibilizar. Invocaram também mandato divino para a sua aplicação, como é óbvio. A outra forma de tornar a Lei aplicável era pelo terror puro e simples, mas essa foi caindo, de forma gradual (e em muitos casos aparente, já que as formas de coacção podem ser bastante sofisticadas) em desuso.

Uma lei de autoria assumidamente humana tem necessariamente em conta os interesses de quem a concebe. Numa oligarquia ditatorial, os interesses particulares são às vezes disfarçados como gerais, mas, em democracia, a Lei não pode estar senão ao serviço da Sociedade no seu todo, ao ter sido criada para resolver os seus conflitos internos  e dos seus membros individual ou colectivamente, sem causar prejuízo maior do que aquele causado pelos próprios conflitos.

(Não tenho competência para avançar mais nos conceitos próprios da Lei e do Direito. Em vez de uma vasta formação académica, oriento-me principalmente pela noção de bom-senso, que muitos dirão não passar de uma treta. Mas é o que me esforço por ter e manter, já que mais não alcancei.)

Com base apenas naquilo que é veiculado pela informação mediática e "online", fico com a impressão (repito "impressão") de que a condenação de um guarda por ter ferido mortalmente a criança que seguia no interior de um veículo em fuga pode não ter sido, na óptica da tentativa de teorização que fiz acima, uma boa decisão. Pode até ter sido correcta do ponto de vista formal e jurídico. Os juízes não fazem a Lei, apenas estão obrigados a aplicá-la com rigor e independência. Quando digo que a decisão pode não ter sido a melhor, tenho em mente que ela resulta ao mesmo tempo da Lei e de quem a aplicou, mas fundamentalmente resulta da própria Lei, no pressuposto de que é aplicada com independência e rigor.

Ou seja: se considero que a decisão pode não ter sido a melhor, por causar maior dano à Sociedade do que os conflitos que pretende resolver (alguns estragos estão fora de questão, por serem irreparáveis), é porque acho que uma grande parte, talvez mesmo uma parte muito grande da Sociedade considera que a decisão foi injusta. E uma decisão tida como injusta sempre ajuda a descredibilizar a Lei, ou a Justiça, ou ambas. 


Aos olhos do cidadão comum, o guarda disparou contra um veículo que seguia em fuga, em desobediência flagrante à legítima ordem de parar, tendo usado os meios de que dispunha para conseguir a sua imobilização e tomado a precaução de causar o menor dano possível. Foi noticiado que o tribunal agravou (aliás com o voto contra e vencido do seu presidente) a classificação do crime para "dolo eventual" porque concluiu que o arguido teve a noção de que a sua acção comportava o risco de suceder algo da natureza daquilo que sucedeu, isto é, sabia que, disparando contra o veículo, podia ferir ou mesmo matar alguém, como veio efectivamente a acontecer. 

Para que a decisão tomada o tivesse sido, decerto foram ponderados não só os factos ocorridos como também as circunstâncias em que eles se deram, bem ainda como as condutas de todos os intervenientes naquele momento.

Ora o que a Sociedade sabe, ou julga saber, é que às autoridades policiais são fornecidas armas com poder letal e que essas armas, precisamente por serem letais, servem como instrumento da acção dos seus portadores, permitindo-lhes dispor de um poder dissuasor suficiente para interceptar e deter os criminosos ou suspeitos. De nada serviria o poder letal das armas se não existisse alguma vez a possibilidade de ele funcionar, isto é, de atingir e ferir alguém (mesmo mortalmente, pois não é, nem pode ser absoluto o controle sobre os efeitos dos disparos). Ora precisamente em razão da perigosidade de tais meios, existem normas quanto ao seu uso. Não sei exactamente quais são nem em que termos estão formuladas, mas quero crer que nem poderia ser de outra maneira.

Se existe (se é que existe) uma norma a determinar que uma arma não pode ser usada quando exista o risco de atingir alguém, o cidadão comum só pode perguntar "Para que serve então a arma?". Se existe (se é que existe) uma norma que impede os agentes da autoridade de usarem as armas a não ser para legítima defesa, isto é, quando a sua própria integridade física esteja em risco, então o criminoso, conhecendo-a, não tem senão que fugir e não atacar a autoridade, pois dessa forma tem garantida a sua própria integridade. Isto até parece correcto. Não se pode disparar a torto e a direito. Mas que tem de fazer a autoridade policial quando o suspeito intimado a parar foge. Deixá-lo ir, simplesmente, uma vez que, se disparar contra ele (ou, melhor, contra a viatura em que se faz transportar) corre o risco de o ferir, quiçá mortalmente?

Sabemos que estas questões são complexas e exigem ponderada análise por parte de quem tem o poder de decidir sobre elas.

Mas o que transparece deste caso é que um guarda foi condenado por ter, acidentalmente, atingido uma pessoa que seguia no interior de uma viatura em fuga. Embora o ditado afirme que "quem foge é valente", o que o cidadão comum vê aqui é que quem foge é porque não quer ser apanhado. E, se não quer ser apanhado pelas autoridades que o mandam parar (algo a que está obrigado por lei), é porque algo tem a esconder das autoridades. E estas têm, ao que sabemos, não só o direito mas também a obrigação de exercer as tarefas que lhes estão confiadas.

Pode ter-me escapado algum aspecto essencial, mas fiquei com a impressão, comum a muitos ao que parece, de que este caso não está a ir bem. É bom até que ainda não tenha acabado, para que seja ainda possível corrigir o mau rumo que tomou.


E — não menos importante — para que a cidadania possa ter a certeza de que a Lei é uma emanação sua e, assim, sentir que está do lado dela.


Voltar ao princípio




« Princípios fundamentais

Artigo 1.o
... é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. »



Onde está a soberania?
Onde está a dignidade?
Onde está a vontade popular?
Estamos a construir ou a destruir?
Sociedade livre?
Justiça?
Solidariedade?

Existe mesmo um país ao qual possa estar a referir-se aquele artigo 1º?





sábado, 19 de outubro de 2013

A barragem





Que a Terra é de todos é um facto. Nascer num hemisfério ou noutro é uma questão de sorte. Ninguém pode ser condenado a morrer de fome por ter tido o azar de nascer no sítio errado, aquele onde não há nada para comer.

Logo, todo aquele que tem fome na terra onde nasceu tem o direito de procurar sustento noutro lugar.

Por outro lado, os que tiveram a sorte de nascer em terras férteis, não se limitam a colher o que a terra dá. São muito raros (se é que existem) os édenes capazes de suportar populações que se dediquem apenas à recolecção, a não ser que se trate de comunidades muito pouco numerosas e que, ainda assim, a Natureza seja bastante generosa.

Os peixes tendem a esquivar-se, a caça é bastante trabalhosa e comer apenas frutos é pobre dieta. Satisfazer a mais básica das necessidades, a de nutrir o organismo para que este possa continuar a viver exige trabalho, por vezes muito trabalho. Depois, satisfazer as necessidades seguintes (satisfeita uma, logo aparece outra) exige cada vez mais trabalho e, sobretudo, organização.

Tendo embora a obrigação de não negar oportunidades ao seu semelhante que chega faminto de outras terras, o residente não é obrigado a ceder tudo aquilo que lhe custou esforço para conseguir. Nem isso é conveniente para nenhum dos dois. Se aquele que chega, cego de fome e de ignorância, acabar por destruir o que o residente criou, ambos acabarão por morrer de fome, já que a subsistência não depende dos bens disponíveis no momento, mas da capacidade de continuar a produzi-los.

Há que pensar nisto quando se fala em abolir todas a fronteiras e entraves às migrações. Qualquer civilização acaba quando invadida por hordas de esfomeados e sem que ninguém fique a ganhar com isso.


A queda de uma barreira é sempre um acontecimento catastrófico. Além de catastrófico é inevitável. A ignorância deste simples facto é que explica a sua existência. Não existiriam barreiras se aqueles que as erguem soubessem, com antecedência, que as barreiras vão cair um dia, com pesadas consequências para todos quando isso acontecer.

As barreiras são como barragens num rio que não deixam passar nenhuma água. À medida que o nível da água sobe e ameaça galgar, acrescenta-se mais parede. Mas um dia a pressão é tanta que a barragem começa a abrir brechas e acaba por rebentar, destruindo tudo na enxurrada.

(E até pode acontecer, por incrível que pareça, que a água galgue a barragem sem a destruir, impulsionada por algo capaz de a empurrar, como aconteceu em 1963 no vale de Vajont, Itália, quando um deslizamento de terras causou uma onda gigante na água represada. Aldeias foram arrasadas e 2000 pessoas morreram. Mas a barragem, apesar de praticamente intacta, nunca mais foi utilizada... É um monumento à imprudência humana.)

Tais calamidades nunca poderiam acontecer num rio sem barragens.

Ainda assim, poderiam ocorrer enchentes estacionais. Sim, sempre ocorrem. Mas são previsíveis e até, como sucedia no Nilo antigo, podem ser a fonte de toda a fertilidade.


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Cinco de Outubro


A supressão do feriado de 5 de Outubro, no qual se comemorava a implantação da República, veio "destapar" uma outra efeméride da mesma data. Remetia-se um dos actos mais importantes da fundação da nacionalidade (o reconhecimento por parte daqueles de quem nos separávamos) lá para o remoto ano de 1143, sem precisar o dia exacto.

Dirão alguns que "ainda bem", pois o que não faltam são repúblicas que tanto vêm como vão e a identidade nacional é só uma que interessa conservar.

Não discordando de parte da justificação, desconfio que a maioria dos que dizem isto não são republicanos. E até me atrevo a dizer que, sem perda da identidade nacional, a Monarquia foi e a República veio. Não sei se a República é para ficar, não faço ideia do que, se não ficar, virá depois dela, mas, por favor, deixem lá estar a Monarquia onde está, que está bem. 


Respeite-se-lhe o descanso. Eterno seja.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um mundo sem regras

A pretexto de evitar a crise do capitalismo, segundo eles demasiado espartilhado por regras e contaminado por uma filosofia keynesiana, despesista — assente na disponibilidade de riqueza pelas populações, incentivando o consumo gerador de crescimento e muito virada para o estado social —, os neocons dos anos 80 acabaram por desencadear um processo que resultou na própria crise. Esta, a que actualmente vivemos, a do chamado mundo ocidental. Se era isso que procuravam, parabéns. Foram bem sucedidos.
Reagan, Thatcher, Pinochet, assim como o seu guru Milton Friedman, lá no inferno onde se encontram, bem podem festejar.
Bem assim como a sua descendência: nunca se bebeu tanto champanhe caro como agora.
Só falharam numa coisa. Nunca, como agora, as contas estiveram tão desequilibradas.
Ou não falharam. O desequilíbrio favorece-os.


domingo, 11 de agosto de 2013

Eles estão errados ou são mesmo maus?

Assim numa reacção primária, para benefício geral, aqueles que agora nos encaminham para esta nova ordem mundial precisam de ser esmagados e aniquilados — ou, numa reacção menos primária,  neutralizados — com a mesma frieza e indiferença com que agora nos esmagam — ou neutralizam — a nós. Eles são como um cancro que precisa de ser extirpado; e tomara que não se tenha tornado maligno e fatal. Os cancros são o expoente do mal misturado com estupidez: uma vez liquidado o hospedeiro, o cancro desaparece também.

As cada vez mais frequentes comparações com o nazismo não são tão descabidas como parece. Os nazis não começaram um processo de extermínio das raças consideradas inferiores movidos apenas por puro ódio. Eles estavam convencidos de que, dessa "purificação", sairia uma raça melhor, mais forte e saudável. Os inferiores não mereciam viver porque a sua existência seria um peso para os "bons", resultando, em última instância, no prejuízo de todos. Estariam, assim, justificados por uma espécie de racionalidade que os ilibaria de culpas.

O mundo asséptico da alta finança, onde as fraquezas humanas não podem ter lugar, um mundo dominado por uma suposta imparcialidade (e racionalidade), é o sistema em que agora só são premiados aqueles que conseguem obter sucesso através da acumulação de riqueza, não importando — são danos colaterais — quantos outros seres são esmagados para tornar isso possível, e é ainda mais ignóbil, por não obedecer a qualquer princípio orientador para além do objectivo do próprio benefício. É a indiferença, a frieza e o egoísmo extremos que os torna ignóbeis. Eles dizem acreditar — não porque de facto acreditem, mas porque convém que os outros o façam — que da desregulação total, da redução do Estado a serviços mínimos, resulta necessariamente o bem-estar generalizado, proporcionado pelo aumento exponencial da riqueza disponível, só possível de criar num mundo sem entraves burocráticos. É claro que não acreditam nisso. Na verdade, o que pretendem é substituir o Estado por um clube onde só eles tenham assento e criar uma economia que, em vez de estar baseada nas dispendiosas e cada vez mais exigentes classes médias, esteja assente na mão-de-obra escrava, agora supostamente livre e com uma remuneração reduzida ao indispensável, comprada através dos sonhos de progresso para todos da segunda metade do século XX, iludida e acalmada através uma suposta liberdade de expressão.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tiques


Salazar acumulou, com as funções de Presidente do Conselho, por diversas vezes, as de outras pastas: Finanças, Negócios Estrangeiros e Defesa. É de reparar que não o fez numas épocas quaisquer, mas em momentos importantes em que terá considerado, na sua natureza desconfiada, que tais funções não deviam ser delegadas em mais ninguém.


Finanças — de 1928 a 1940, no início do regime. Salazar vinha das Finanças. Ainda antes de subir a Presidente do Ministério (designação depois alterada para Presidente do Conselho), ele foi titular dessa pasta, que manteve. O equilíbrio das contas públicas era, para ele, uma prioridade absoluta.
Negócios Estrangeiros — de 1939 a 1944, ainda antes do desfecho da Guerra Civil espanhola e no período da 2ª Guerra Mundial, na qual o País não participou abertamente e foi oficialmente neutral mas teve intensa colaboração (pelo menos económica) com o III Reich de Hitler, fornecendo-lhe o volfrâmio de que ele tanto necessitava para a sua indústria de guerra.
Defesa — entre 1961 e 1962, no início da Guerra Colonial.

Quem não veja semelhanças entre o início do Estado Novo e a época em que vivemos é porque não leu nada da História do século XX português ou por ter estado distraído, ou então porque não quer. 

Por exemplo, Salazar renunciou ao cargo de ministro das Finanças treze dias depois de o ter assumido pela primeira vez, retomando-o após exigir e obter dos militares da ditadura o controle total das receitas e despesas de todos os outros ministérios. 

Tivemos recentemente, ou não, algum super-ministro das Finanças que fazia do equilíbrio das contas públicas a sua prioridade absoluta?

As Finanças sempre foram e são importantes. Que o diga a actual ministra, que não se sabe muito bem como subiu ao cargo, por quem foi e está apadrinhada (dentro ou fora do País). E o Tesouro, do qual ela é a anterior titular? Perdida a confiança no secretário, reservou ela para si mesma as funções, ao que diz provisoriamente, mas a ver vamos…


Vendo que se mantêm os mesmos tiques nas mesma áreas, quem não ficaria pelo menos inquieto com as semelhanças?

PS, de post scriptum:
(Interromper a meio um curto período de quinze dias de férias para presidir a uma reunião do Conselho de Ministros, dá a impressão de quê, se não for explicado? Não é uma acumulação, mas é uma não-delegação, uma declaração quase explícita de falta de confiança no substituto formal. O princípio é o mesmo. Estaremos rodeados de gente providencial?)


O Barco a Pique

« ... os acontecimentos e o rumo que as coisas estão a tomar já ultrapassam mesmo os próprios "governantes locais".
O Estado já só existe formalmente. O que há é um conjunto de pessoas que funcionam, uns de forma mais voluntária do que outros, como agentes dos interesses financeiros de uma elite endinheirada que conseguiu, ao longo de décadas, ir suprimindo sucessivamente todas as conquistas dos povos nos últimos séculos em matéria de justiça social. Subsiste, para criar ilusão, um arremedo de liberdade de expressão, mas até essa é falsa, infiltrados e comprados ou destruídos que estão os media na sua generalidade.
Até o capitalismo, tal como o conhecíamos, foi substituído. A posse de capital real, fábricas e meios de produção de bens, foi substituída pela capacidade de fabricar dinheiro livremente através do mecanismo dos empréstimos e da criação artificial e induzida de dívida. A rebelião das massas é controlada habilmente através de um sofisticado equilíbrio entre a vontade de lutar e o medo de perder o pouco que ainda resta. A matriz e medida de todo este sistema é o dinheiro, apenas o dinheiro e a sua posse. 


E acrescento que, em relação à liberdade de expressão, ela está a ser habilmente aproveitada como válvula de escape das tensões. E a prova de que funciona está aqui. Dizem-se estas coisas, que provavelmente são reais e têm até o acordo, não admitido, claro, daqueles a quem se critica, e depois ficamos mais aliviados na crença de que o que dissemos serviu para alguma coisa. E os tais pensam e dizem só entre eles "isso, isso... desabafa que te faz bem...". »

Exagero? Não me parece.



Regimes especiais, excepções, privilégios, sementes de divisão…




Definição de divisão:

A divisão é uma planta espontânea. Não precisa de ser semeada. Surge em qualquer terreno onde já exista previamente qualquer espécie de coberto vegetal. No entanto, medra muito mais rapidamente quando é fertilizada ou quando cria raízes em terrenos pouco homogéneos, constituídos por camadas de densidades muito diferentes. É geralmente nos intervalos entre essas camadas que ela tende a germinar e a proliferar. Quando semeada, especialmente em terrenos onde já surgiu espontaneamente, tende a  tornar-se invasiva e rapidamente sufoca toda a outra vegetação. Nessa fase, a sua erradicação torna-se bastante problemática, pois esse processo destrói totalmente a coesão estrutural dos terrenos, já iniciada, deixando-os vulneráveis a todas as formas de erosão e posterior desertificação. 


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Deslizes e descuidos



Estamos a ler um texto informativo que, a princípio, até parece ir bem e é sobre um tema que consideramos importante.
De repente, começam a aparecer inconsistências.
Para rematar, surgem termos e expressões mal traduzidas ou simplesmente por traduzir (o Google Translate falhou...).
Vai tudo por água-abaixo… às vezes não vai, se for possível encontrar o original.
Muitas vezes, estes textos são divulgados por pessoas ou organizações empenhadas em denunciar as patifarias que os "espertos" deste mundo vão cometendo. Mas estes pequenos deslizes constantemente repetidos minam a credibilidade de quem os comete e desvalorizam o seu trabalho por vezes meritório e em nada beneficiam os nobres objectivos.



quarta-feira, 31 de julho de 2013

Bach vs. Mozart


Quando não suporto ouvir Mozart, a alternativa é escutar Bach.
Mozart é para acompanhar (ou não) certos estados de espírito.
Bach é capaz de os modificar.







quarta-feira, 10 de julho de 2013

De extremos


???



Fomos os primeiros a chegar, fomos os últimos a sair e também somos, porventura, quem menos beneficiou da posse de um império colonial.


(Afinal, somos de extremos ou não?)


sábado, 6 de julho de 2013

Apelos

Expressões de tom religioso.

"Guarde-mos(nos) Deus!"

Em resposta a um "Bom dia!" ou "Boa tarde", recordo-me que era bastante utilizada pelas pessoas de mais idade, na forma "Guarde-mos Deus!". Todas as pessoas, sem excepção, usavam a expressão com a forma pronominal deturpada. Mais tarde percebi que as pessoas que eram capazes de dizer a frase na forma gramaticalmente correcta eram precisamente as que não a utilizavam (mas isso já é complicar o tema...).
Também era empregue, nas mesmas situações esta outra: "Venha com Deus!" ou "Vaia (vá) com Deus!", no caso de uma despedida.

Mas também há as expressões de aflição, como aquela "Valha-nos Deus!".
Esta expressão já não é só usada pelas gentes do povo, mas pela população em geral.

No contexto actual é que deve ser de todo inútil dizer "Valha-nos Deus!", já que o citado parece ser completamente surdo.

domingo, 17 de março de 2013

O brilho das estrelas



Ao tentar descobrir, como muita gente terá feito, o local onde foi tirada esta foto, descobri que ela está publicada em tantas páginas que já não dá para ter a certeza de que alguma delas diz a verdade acerca disso.
Grande parte delas faz referência a "German Landscapes"  e algumas também afirmam que é no Alaska ou no Canadá, mas nenhuma delas, que eu me apercebesse (até porque não perdi tempo a ler todas) referiu um local concreto, um determinado lago, umas coordenadas geográficas rigorosas.
Do que fiquei certo, mas sem margem para dúvidas, é que se trata de uma foto famosa. Apesar de eu a ter visto hoje pela primeira vez, ela já era conhecida por muita gente que a divulgou.
Também acredito que, com paciência, tempo e conhecimento, talvez fosse  possível filtrar toda a informação disponível e chegar a um resultado aproximado, senão mesmo exacto. A investigação é isso mesmo.
O que me preocupou  — se é que numa altura destas se pode levar a sério tal espécie de preocupação — foi ter-se instalado a suspeita de que, no escrever da História, quem sabe não haverá a possibilidade, ou talvez mesmo a probabilidade, de o historiador ser confundido pela profusão de informações acerca do seu objecto de estudo, que tanto poderão ser verdadeiras como falsas.
No trânsito democrático da informação dos nossos dias, ganha quem tem pernas para andar e chega a converter-se em verdade absoluta (ou aceite como tal) a maior das aldrabices, desde que convenientemente propagandeada. É preciso é que caia no gosto do maior número possível de potenciais propagadores.


Quem tiver paciência pode seguir AQUI a ligação para a página de pesquisa do Google com a imagem.


sábado, 16 de março de 2013

O vinagre e o mel


Os miúdos da aldeia começaram a não querer ir à escola porque eram sistematicamente apedrejados pelos outros miúdos, os do acampamento. Na mesma altura, hortaliças e legumes desapareciam das hortas, não dando tempo a que os donos os colhessem. Chamada a autoridade local para resolver o problema dos apedrejamentos (o outro não seria tão fácil de resolver dessa forma) gerou-se a confusão do costume. Os agressores e seus familiares, como tão bem sabem fazer, assumiram o papel de vítimas e reagiram contra os agentes da autoridade. O tom subiu um bocado e as coisas pareciam difíceis de controlar. Até que surgiram, não se sabe bem de onde, duas "Chaimites". Fosse devido ao aparecimento dos blindados ou a qualquer outra causa não apurada, o certo é que o problema ficou resolvido ali mesmo. O acampamento desfez-se por vontade própria e os seus membros seguiram para parte incerta, não tornando, durante muito tempo, a perturbar a tranquilidade do local.
Isto foi noutros tempos, que não eram tempos bons.
Os tempos mudaram, os "bons" tornaram-se ainda melhores, bonzinhos e politicamente correctos. Quanto aos outros, os do acampamento, deixaram de acampar e agora geralmente já residem, mas não deixaram de ser eles mesmos. Nem bons, nem maus.
Eu não sei se os blindados seriam adequados para os tempos que correm.
O que sei é que temos andado a cair num enorme equívoco, a cometer um enorme erro.
É que, se o vinagre não apanha moscas, o excesso de mel atrai moscas em demasia.

PS: Não se veja nisto nenhum tipo de xenofobia ou racismo.
É que boa vontade não falta. O que falta são os resultados...




domingo, 10 de março de 2013

Ratazanas



A língua espanhola, para os portugueses, está cheia de falsos amigos, como há pouco vimos.

Na lista então publicada, podemos encontrar, por ordem alfabética, o célebre "rato", que não tem nada a ver com roedores e que significa momento, instante. Para designar os roedores, terão de usar ratón (outra contradição, pois parece referir-se a um rato grande quando na verdade designa um ratito dos pequenos). Para falar das ratazanas grandes, há que usar a variante rata.

No entanto, se usarmos o masculino deste termo (coisa que não é lícita em castelhano, mas que tomamos a liberdade retórica de fazer), encontraremos então um "rato", naquele sentido que, em português, às vezes lhe damos.

Parece que o tema era a destrinça de minúcias linguísticas, mas não é assim: são mesmo os ratos, com destaque para um deles. Atacaram num navio que navega aqui ao lado do nosso e não andaram a brincar. Comeram que se fartaram. E, como boas ratazanas, só por azar é que alguma ainda está no barco quando este se afunda.

Uma descrição do assunto, aqui.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

legalidades


Quando duas legalidades antagónicas se cruzam, aquele que for apanhado na intersecção — acidentalmente, ou posto lá de forma voluntária ou involuntária — deve preparar-se para ser castigado por uma delas (e mesmo por ambas) ou ser castigado por uma e abandonado pela outra.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Falsos amigos

... quem os não tem?

Mas aqui trata-se de outros falsos amigos, palavras que parecem ser aquilo que não são, que julgamos erradamente conhecer.


A tradicional e generalizada antipatia dos portugueses por tudo o que vem de Espanha (nem bom vento nem bom casamento) não impede uma boa parte de acreditar que o idioma castelhano é uma espécie de Português com uma entoação cómica. Vai daí, parece que a leitura não apresenta especial dificuldade (falar já é mais complicado, pois não basta arremedar o acento, como bem sabem — ou deviam saber  — Mourinho, Ronaldo e os políticos em geral).

Mas será de facto assim? Será a língua espanhola tão acessível?

De facto é. Mas convém ter atenção aos tais falsos amigos.

Palavra em espanhol
Parece que é…
…, mas na realidade significa
absorto
absorto
distraído
aceitar
aceitar
untar/lubrificar com óleo
aceite
aceite
óleo
acordarse
acordar
lembrar-se/recordar-se
alargar
alargar
alongar
alias
aliás
alcunha/nome suposto
anécdota
anedota
história breve/episódio real
ano
ano
ânus
apellido
apelido
sobrenome
azar
azar
casualidade
balón
balão
bola
barata
barata
promoção
bicha
bicha
serpente
bola
bola
globo
borrar
borrar
apagar
brincar
brincar
saltar
cabrón
cabra
sujeito malandro
cachorro
cachorro
filhote
calzas
calças
verbo (tú calzas)/meias/calções
carroza
carroça
carruagem
cierto
certo
VERDADEIRO
cola
cola
fila
contaminar
contaminar
poluir
cuello
coelho
pescoço
crianza
criança
criação
desenvolver
desenvolver
abrir/desembrulhar
doce
doce
doze
donde
de onde
onde
embarazar
embaraçar
engravidar
engrasado
engraçado
lubrificado/engraxado
escoba
escova
vassoura
escritorio
escritório
secretário
exquisito
esquisito
delicioso/elegante
estufa
estufa
fogão
feria
férias
feira
firma
firma
assinatura
funda
funda
fronha
jugo
jugo
suco
largo
largo
comprido
leyenda
legenda
lenda
luego
logo
depois
maestro
maestro
professor
manteca
manteiga
banha
mermelada
marmelada
doce
mientras
mentiras
enquanto
mirar
mirar
olhar
oso
osso
urso
palco
palco
camarote
pelirrojo
perigoso
ruivo
pelo
pelo
cabelo
patio
pátio
platéia
propina
propina
gorjeta
rato
rato
momento
rojo
roxo
vermelho
salada
salada
salgada
tapa
bofetada
tira-gosto
taza
taça
xícara
travessón
travessão
trave 
E deverá haver mais alguns, pelo que convém não "presumir de saberlo todo".